[Resenha] O Bom e Eterno Chaves

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El Chavo del Ocho ou El Chavo (conhecido no Brasil como Chaves) é uma série de televisão humorística mexicana criada e estrelada porRoberto Gómez Bolaños e exibida originalmente entre 20 de junho de 1971 e 12 de janeiro de 1992. O enredo gira em torno das aventuras e atribulações de Chaves (Chavo, no original), um garoto órfão humilde que mora dentro de um barril, e dos outros moradores de uma vila suburbana fictícia.


(FONTE: Wikipédia.br)



A arte de escrever boas histórias é um tanto complexa e trabalhosa. Há sempre questões que atravessam a elaboração de um bom texto como a profunidade dos personagens ou mesmo o entrelaçamento da trama, o que pode resultar num trabalho imenso e numa igual quantidade de revisões. No entanto, isto não significa que, para ser boa uma história tenha que ser necessáriamente complexa.


Desde muito tempo, ouso dizer desde a invenção do próprio teatro a ficção tem como papapel mimetizar a vida tornando-a mais branda e doce. Principalmente nas comédias, onde se passam por inúmeros estágios para se alcançar um final que seja feliz. Creio que o objetivo de quem redige um texto classificando-o sob tal categoria visa que o espectador esteja mais leve após ter contato com aquela história.


Porém a comédia é também utilizada muitas vezes sob pretexto para críticas sociais em vários casos ironizando a realidade expondo suas controvérsias fazendo com que a sociedade ria de seus próprios paradoxos podendo confrontá-los de forma caricata e implícita tornando a absorção da mensagem política ou social praticamente subliminar.


No entanto, há quem diga que o bom e velho chaves é apenas um seriado bobo e repetido que passa desde sempre no SBT.


Exibido pelo canal do dinossauro Silvio Santos há quase 30 anos, o seriado que originalmente era apenas mais uma esquete do programa Chespirito no méxico acabou se tornando extremamente famosa tanto no Brasil quanto em outros países do mundo sendo até mesmo comparada a clássicos como os filmes do bom e velho Charlie Chaplin ou comédias clássicas como o Gordo e o Magro e os Três Patetas.


No entanto se parármos para analizar Chaves friamente concordaremos que a série não possui 1/10 da acidez e ironia de clássicos como Monty Python ou mesmo o nível de humor pastelão que Os Trabapalhões alcança. Pois então qual seria o sucesso do segredo da série?


Disse freud em seu texto sobre os chistes que o humor é uma combinação de postura, tom de voz e um jogo de significado de palavras. Se falarmos de postura, é inegável que os companheiros de chaves, apesar de se tratar de uma comédia leve e despretenciosa, quase nos convencem de que são crianças. E isso se deve em grande parte a atuação circense dos atores.


O teatro de origem circense tende a transformar os personagens do picadeiro em caricaturas de pessoas. Gestos longos e poses exageradas caracterizam este tipo de atuação onde, por estar mais distante do público, é necessária uma expressão corporal forte e definida onde cada cena, cada fala é “amplificada” pela expressão corporal do ator. Não há cortes de câmera, seja no picadeiro ou no palco italiano o ator necessita chamar atenção para si, e isso é feito com a expressão corporal.


Percebemos que em Chaves há um cenário geralmente um forma de palco com uma câmera que permanece estática em grande parte do tempo dando ao enquadramento amplitude o suficiente para fotografá-lo inteiro. Isto nos remete ao formato do teatro do qual muito falamos. Há pequenos movimentos de câmera da esquerda para a direita, e alguns closes, porém na maioria do tempo observamos os personagens de um mesmo ângulo.


Porém a atuação exagerada e até mesmo a angulação de câmera é uma característica dos quadros humorísticos podendo ser observado na maioria deles.


A inocência e a despretenção da história é que conferem a Chaves o diferencial capaz de contagiar desde a criança até o velho. Os personagens são arquétipos que são fácilmente passíveis de identificação pelos espectadores, sejam eles crianças ou mesmo velhos ranzinzas. Além disso, a série parece se basear em vários conceitos de morais que são o tempo todo abordados nas simples tramas, como “roubar é errado”, explícito no episódio em que o irônico personagem “seu furtado” aparece, ou mesmo em eternizados jargões  como “as pessoas boas devem amar seus inimigos”.


Chaves se pretende e consegue ser com sucesso uma série familiar, e com sua levesa e despretenção obtém tal resultado com sucesso. Por isso é plenamente capaz de atravessar gerações se tornando nostalgica para os que já viram e cativando novos espectadores em seus primeiros anos de idade. Não é atoa que até hoje a série é usada como “tapa-buracos” ou “salva-vidas de audiência” pelo SBT, chegando muitas vezes a concorrer com as atuais novelas da gigante globo.


Por isso estes motivos, ouvir uma pessoa dizer que não gosta de chaves causa o mesmo espanto que ouvir alguém dizer que não gostam de sorvete ou chocolate.

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