A relação entre o empobrecimento cognitivo e o racismo estrutural


Mais uma discussão sobre psicologia social e o racismo no Brasil que iniciamos no twitter através de uma thread, uma sequência de pequenos textos publicados na rede social. Você pode acompanhar a discussão em tempo real abaixo:


 Uma questão psicológica que afeta muito o nosso povo preto é a questão do incompreendido “empobrecimento cognitivo”, um assunto complexo e delicado que vamos expor por aqui. Mas antes é necessário estar ciente das seguintes considerações:
  • O que não faltam são mitos fomentados pelos racistas, inclusive na ciência. O escritor Alê Santos já falou bastante sobre o movimento eugênico nos textos dele, como neste artigo que o mesmo publicou na Super Interessante abordando que muitos cientistas eugenistas alegavam ter comprovado a inferioridade cognitiva do negro, o que é um absurdo.
  • Também já abordamos por aqui a questão do mito do “vagabundo, pois na sociedade da meritocracia e do racismo existe um mito de que o negro “não gosta de trabalhar” e por isso empobrece.
Tendo estas questões em vista, o que queremos discutir hoje é sobre um dos maiores crimes desse sistema racista que é a geração e a perpetuação de pobreza que não é apenas material. A falta de recursos pode gerar uma prisão ainda maior,

Um grilhão para a nossa mente.

Trabalhando com População em situação de rua fiquei familiarizado com o termo “empobrecimento cognitivo”. Muitos profissionais que começam a trabalhar com violação de direitos ficam chocados com certos casos. Quem quer  tirar uma pessoa da rua pensa que dar um emprego e uma moradia deveria resolver definitivamente o problema dela. Mas muitas das vezes acontece a reincidência da vida na rua, mesmo quando não há álcool e outras drogas ou transtornos envolvidos.

Isso deixa muitos profissionais perplexos, e a saída autoritária e moralista já logo busca diagnosticar essa falha como sendo culpa do “caráter” da pessoa que foi ajudada. Resumindo na “falta de vontade” o que é na verdade uma violação de direitos de toda uma vida. Lembrando que, principalmente no Brasil esse tipo de lógica é utilizada para mascarar um racismo, tendo em vista que na época da colônia e da escravidão estes mesmos defeitos eram considerados atributos inerentes as pessoas pretas.

Em psicologia social estudamos principalmente em Vygotsky que o que nos torna humanos não é só a nossa biologia, mas também o convívio em sociedade. A neurociência tem ratificado esse ponto. Portanto, há também um desenvolvimento emocional e cognitivo necessário para o desenvolvimento humano, que é social. Não dá pra se esperar que uma pessoa que não teve acesso a recursos materiais e emocionais seja inserida na sociedade do dia pra noite.

Portanto, o empobrecimento cognitivo é, 

resumidamente, quando uma pessoa sofre falta ou presença abaixo da média de habilidades emocionais, lógicas e até mesmo sociais devido ao não estímulo em seu desenvolvimento.

O problema é que, por ser uma questão de viés sócio cultural, o empobrecimento cognitivo se perpetua na história de sujeitos e grupos sociais que não têm acesso aos cuidados que deveriam ser mínimos e obrigatórios!

Infelizmente, quanto mais estudo sobre a psicologia preta, mais violência encontro nas estruturas sociais racistas que fundam o nosso país, que tentam limitar nossos corpos e até mesmo nossa mente! É dever do ESTADO garantir que essas pessoas tenham acesso aos recursos que vão além de renda, alimentação e moradia, mas sim de uma assistência psicossocial focada na psicoeducação para que estas pessoas sejam realmente inseridas na sociedade plenamente.

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