Psicologia: arte e técnica.

Dizem que a palavra arte se remete puramente a uma prática técnica. Mas o que será que isso significa?

Ao longo dos séculos, os grandes mestres solidificaram os caminhos da arte através de repetições feitas com um fervor quase dogmático. Mas se a aplicação de uma técnica, ou seja, trilhar um caminho já estabelecido, determina o que é uma boa arte, talvez ela esteja fadada a estagnação.

Na minha opinião, por muito tempo a arte quis registrar a realidade, principalmente as artes plásticas. O uso de técnicas talvez visasse reproduzir puramente a forma como nossos olhos enxergavam o mundo. No entanto, com o avanço da tecnologia, as técnicas que visavam apenas reproduzir imagens com a maior fidelidade possível acabaram, de alguma forma, por se tornarem menos impressionantes e até mesmo, menos populares. Afinal, se um leigo pode apontar uma câmera para qualquer canto e eternizar uma cena em milissegundos, o que registra o pincel do artista?

Nesse caso, na minha opinião, a arte moderna registra algo que nenhuma câmera ou máquina pode registrar com sucesso: sentimentos.

O fotógrafo não registra imagens, ele registra um olhar. E isso é muito diferente do que aquele grande artista renascentista tentava fazer com suas pinturas a óleo. É claro que esse artista também registrava um olhar, mas sua prioridade era o realismo da luz que esse olho captava, talvez, não o sentimento daquele que olha, ou a captura do significado daquele contexto.

E daí é talvez que por isso eu acredito que a psicologia nunca possa ser uma ciência exata. Já discutimos aqui em diversos textos sobre essa impossibilidade de uma ciência "exata" feita por humanos, mas se há uma ciência que precisa ser humana, pelo menos no contexto em que vivemos atualmente, é a psicologia. Isso porque hoje a técnica visa registrar aquilo que é subjetivo e, se a psicologia não é a ciência que visa capturar, entender e, porque não, operar nesse subjetivo, ela não pode ser objetiva, ela não pode ser exata, isso porque, aquilo que chamamos de exato talvez não permita o subjetivo.

No entanto, ao debruçar-se sobre o subjetivo, se a psicologia quer ter uma ética ela precisa ser técnica. Por isso, sim, a psicologia precisa também limitar-se a técnica a repetição dogmática (de certo modo) tendo em vista alguma segurança que permita que tenhamos um discurso sobre a psicologia que seja inteligível, pelo menos entre aqueles que a praticam. Um discurso ético. E por ética acabamos já por delimitar nossa técnica a uma palavra que nos remete a "boa forma" da filosofia grega, ou seja, um pensamento colonizado. No entanto, a ética que a psicologia busca, no meu entendimento, é um diálogo que desenha o comportamento, mas ele não contém em si um sentido de realidade sólida, mas sim adaptável. Uma realidade de discurso se constrói enquanto se fala, enquanto se pratica, portanto, se transforma a cada palavra.

Assim como na poesia, as palavras que compõem a ética da psicologia precisam significar mais do que aquilo que está no dicionário. Elas precisam ser acompanhada de sujeitos cujos contextos são inseparáveis. Contextos que são históricos, sociais e sobretudo, únicos. Afinal cada discurso é diferente do outro na mesma proporção da diversidade da subjetividade. Uma escuta psicológica, portanto, talvez não possa ser uma prática que busca uma realidade dura, assim como aquelas pinturas renascentistas, mas sim que investiga através do acolhimento de um discurso diverso. Um discurso que não contém em si realidade, mas subjetividade.

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