O clube dos cheiradores de livro
Se você é uma Pessoa-Que-Lê, você já cheirou um livro. Quem nunca tirou aquele livro recém comprado do plástico e, tentado por aquele odor que é uma mistura de papel novo recém trabalhado com tinta, deu uma cafungada no cangote daquela brochura?
Mas, cuidado. Alerto as pessoas que estão se iniciando nessas práticas rituais ancestrais que, cheirar livros novos é apenas a porta de entrada para drogas mais pesadas.
O primeiro passo da maioria desses grupos de pessoas anônimas é você reconhecer que tem um problema. E quando você está em outro país tentando arrumar espaço na mala porque achou um livro com mais de cem anos porque você deu uma cheirada, isso pode ser um problema.
Segundo o Google (cuja fonte é o dicionário de Oxford), a bibliofilia é o amor aos livros, a arte literária e seus diversos encadernamentos.
Sem preconceito ao Kindle e seus genéricos, muito menos ainda a quem lê no computador ou celular uma cópia digital pirateada porque não tem grana. Mas aqui, no clube dos cheiradores de livro, o físico é a supremacia.
Afinal eu nunca vi ninguém cheirando um Kindle…
Quem nunca teve em mãos um livro bem diagramado, em capa de couro, fonte serifada e bem disposta pela página… Com um frontispício colorido, com borda enfeitada e não ficou tentado a dar uma cheirada nunca vai entender o que eu estou falando.
Há diversos cheiros num livro antigo, antes que você corra para os comentários para dizer que é apenas cheiro de poeira. As vezes pode ter cheiro de mofo também se mal guardado (risos). Brincadeiras a parte, livros antigos são feitos para durar mais do que seus donos, portanto a o cheiro de colas antigas que já não existem mais, de couro envelhecido, cheiro das costuras (que lembra tecido velho).
Mas não é só o cheiro.
Há também a textura da capa, se há escritas gravadas, relevos… O peso, o toque. A abertura. Se o livro fica aberto sobre uma mesa, ou se pode ser segurado aberto com uma mão só… Há vários fatores que podem tornar um livro de bolso uma experiência mais agradável do que um encadernado de couro. Tudo depende.
Recentemente, assisti um filme que, apesar de péssimo, tem muito book pürn. “O Último Portal”, somente disponível Brasil na locadora do Paulo Coelho e dirigido pelo cancelado Polanski (que segundo a minha esposa já morreu em nossos corações) e protagonizado pelo (des?)cancelado Jonny Depp tem diversas cenas de gente cheirando livros, tocando livros, dizendo sobre como eles amam livros… Uma pena que todas essas pessoas sejam terríveis satanistas, pois o filme é uma história de detetives sobre um cara que está tentando invocar o tinhoso. Eu avisei que o filme era ruim.
Mas acabei me identificando com essas cenas e com os personagens. Há vários colecionadores de livros antigos excêntricos que são visitados ao longo da história. Cada um mais interessante que o outro. E, no filme, há outros gatilhos: há canetas tinteiro, móveis antigos, tudo isso e acompanha o vício de bibliofilia.
Bom, cada um com seus vícios e taras. O meu é inofensivo, menos para a conta bancária, é claro - Apesar de que é bem menos do que você possa imaginar. Mas será que eu estou sozinho? Só eu gosto de livros antigos? Junte-se você também ao clube dos cheiradores de livros novos e antigos. Infelizmente, não aceitamos cheiradores de ebooks, por enquanto.
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