Dez dicas para escrever um roteiro de sucesso em Hollywood

'O Legado Bourne', filme escrito e dirigido por Tony Gilroy. Foto: AP

‘O Legado Bourne’, filme escrito e dirigido por Tony Gilroy. Foto: AP

Tony Gilroy é um dos roteiristas mais cotados de Hollywood, por causa de sucessos como Armageddon (1998) O Advogado do Diabo (1997). Ele ganhou o Oscar de melhor roteiro original com Conduta de Risco, em 2007 confira suas dicas publicado na BBC Brasil / Obtido no site Livrosepessoas.com


A BBC perguntou a ele qual é a chave para escrever e ser bem-sucedido no centro da indústria cinematográfica americana. Estes são seus dez conselhos:

1. Consuma cinema

Não acho que se aprenda muito com cursos ou livros. Quem vai ao cinema desde pequeno encheu a vida de narrativas. É algo que está na área mais profunda do ser.

Ir ao cinema, ter algo a dizer, ter imaginação e ter a ambição de fazê-lo é realmente tudo o que se precisa. O resto se aprende.

2. Invente histórias, mas que sejam reais

Escrever roteiros é um trabalho de imaginação. Nós, os roteiristas, inventamos histórias. Tudo o que tenho na vida é resultado de ter inventado muita coisa.

Mas há algo que se deve compreender bem e que faz a diferença: o comportamento humano.

A qualidade da história está diretamente relacionada com a compreensão do comportamento humano. É preciso se transformar em um jornalista para o filme que está tentando criar em sua mente. É preciso investigar, fazer reportagens… cada cena tem que ser real.


Gilroy diz que roteiristas precisam ‘viver a vida’ para que possam ter algo a dizer


As grandes ideias não funcionam. Comece com uma ideia pequena que possa ser expandida.

Com a saga dos filmes Bourne, eu nunca li os livros (uma trilogia de Robert Ludlum), preferi começar do zero.

A premissa simples do personagem Jason Bourne é: “eu não sei quem sou, nem de onde venho, mas talvez eu possa me definir através do que sei fazer”.

Construímos todo um universo a partir desta pequena ideia. Isso começa modestamente e vai sendo construindo passo a passo. É assim que se escreve um filme para Hollywood.

4. Aprenda a conviver com a sua invenção

Meu pai era roteirista, mas não existe um “gene criativo e boêmio” na nossa família.

Aprendi a observar o quão duro ele precisava trabalhar, e compreendi o tempo que rege a vida de um escritor. É preciso escrever nos momentos de inspiração.

Se você vive com outras pessoas, elas aprendem a não se assustar ou se queixar destes ritmos criativos.

5. Escreva para a TV

É cada vez mais difícil fazer filmes bons. Mas nas produções de televisão, é possível encontrar a ambiguidade e os tons cinza de realidade. É aqui que as histórias podem se tornar interessantes.

Muitos roteiristas estão bastante entusiasmados com a televisão no momento, e é um negócio controlado por escritores. Quando os roteiristas estão no comando, sempre há coisas boas na televisão.

Eles são mais racionais, trabalham mais duro e são mais benévolos também.

Quando os escritores comandam o entretenimento, o negócio funciona. Talvez agora vejamos a TV se convertendo em uma utopia guiada pelos roteiristas.

6. Aprenda a escrever em qualquer lugar, a qualquer momento

Eu tenho um escritório na minha casa, mas já escrevi em milhares de quartos de hotel. É preciso escrever em toda a parte.

Se estou feliz com o que escrevo, não quero parar. Agora que sou mais velho e mais sábio, não me prendo ao fato de meus escritos estarem fluindo ou não. Telefono para casa, digo que não vou chegar para o jantar e sigo trabalhando.

Mais do que nada no mundo, eu desejo continuar tendo vontade de ir ao escritório, sem medo de trabalhar.

7. Consiga um emprego

Eu passei seis anos trabalhando em um bar enquanto tentava entender como escrever roteiros.

Se você quer escrever, se é jovem e ninguém o conhece, busque um trabalho que pague a maior quantia de dinheiro possível com a menor quantidade de horas possível, para que você tenha uma boa parte do dia para escrever.

Trate de viver em alguns lugares onde possa ter acesso a boas conexões culturais, onde possa ver muitos filmes e conhecer muitas pessoas. E trate de achar um lugar onde possa simplesmente escrever, escrever, escrever.

8. Viva a vida

Se você não tem nada para dizer e não viu nada mais do que um punhado de filmes, sobre o que você vai escrever? Só se pode contar aquilo que se conhece.

Busque se interessar por uma grande quantidade de coisas, temas e pessoas, e mantenha-se interessado. Meu conhecimento é muito amplo, ainda que incrivelmente superficial, porque não sinto falta de mais.

Costuma ser muito mais interessante uma história escrita por um jornalista, por um policial ou por um banqueiro do que algo vindo de alguém que estudou cinema por 20 anos.

Há exceções, é claro. Mas quase sempre é o caso de “se você não tem nada para dizer, para que está aqui”?

9. Não se mude para Los Angeles

Los Angeles não é um bom ambiente para jovens roteiristas, diz Gilroy

Eu não acho que exista um motivo de peso para se morar em Los Angeles (centro da indústria cinematográfica americana).

Eu acredito que L.A. é um lugar muito ruim para alimentar a mente. Em Los Angeles, as pessoas passam grande parte do tempo dentro de carros e rodeadas de outras pessoas deprimentes.

Não acredito que Hollywood seja uma boa vizinhança para um escritor jovem, isso não vai lhe ajudar a sentir qualquer tipo de emoção.

10. Resista e siga em frente

Na minha carreira, já ocupei as duas posições do “Kama Sutra de Hollywood”: tanto por cima como por baixo.

É importante aprender a lidar com as quedas e rejeições. Acho que um dos motivos pelo qual os roteiristas são tímidos é que estamos todos sempre suspeitando dos nossos processos, já que ele fracassa com frequência.

Não é nada diferente do que acontece com romancistas, compositores ou pintores. Quando o mundo externo te rejeita, a pessoa decide superar isso ou deixar-se vencer.

Mas acredito que os dias mais difíceis são aqueles em que nada acontece. Todos os que já tentaram escrever alguma vez sabem bem do que estou falando.

O bom é que não há nada que não se cure com um bom dia de trabalho.

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