Resenha: Superman (2025)
Histórias de super-heróis por boa parte de sua existência eram coisas de criança, coisa de revistinha que custava centavos na banca de jornal. Misturando diversos gêneros que vão da ficção científica, fantasia e elementos de ação, a ideia era, meramente, entreter.
As histórias eram sempre rasas com personagens unidimensionais e universos maniqueístas, ou seja, os vilões eram sempre puramente maus enquanto os mocinhos eram essencialmente bons. Mas isso mudou. Principalmente depois do surgimento de personagens com problemas pessoais como o Quarteto Fantástico e de um Super-heróis adolescente (pra época), o Homem-Aranha, os quadrinhos passaram a se levar mais a sério.
Isso se deve porque os tempos mudaram, na década de 60 inventaram essa coisa chamada adolescência e, depois disso, a nostalgia conseguia fisgar leitores jovens adultos para os quadrinhos, até que na década de 80 com obras como o expoente Watchmen, do mago Alan Moore, quadrinho passou a se levar a sério inserindo questões sociais, geopolítica e muito mais.
E até então a gente tava falando só da coisa impressa. Agora os super-heróis parecem sofrer o mesmo movimento nas telas.
Filmes de super-herói são alimentados por uma mistura de nostalgia, o que é um ponto fraco dos adultos atuais, e entretenimento barato. A geração de adultos atuais na casa dos 30, 40 foi essa geração que cresceu lendo quadrinhos e, mais importante, cresceu com a promessa de que o mundo seria próspero e que eles teriam bons empregos e uma vida satisfatória. Era só ter uma boa formação e trabalhar duro que você poderia ter casa própria, carro e até fazer umas viagens.
Mas,
quando se é adulto num mundo em crise, mas se foi criança numa era de
esperança, esses adultos vão ficar mais nostálgicos, ou seja, querendo
voltar ao tempo de criança. E essa é a aposta que faz o novo filme Superman.
O novo filme parece um episódio estendido da animação clássica da TV “Liga da Justiça” que era exibida no SBT dos anos 2000 na hora do almoço, com ficção científica barata com seus “universos de bolso”, meta humanos, naves e monstros gigantes. Com um super-homem essencialmente bom contra um Lex Luthor terrivelmente mau e sem direito a redenção.
Nem woke, nem fascista (ao ponto de incomodar, pelo menos).
Sim, a obra sobrevoa sobre alguns assuntos políticos, mas mal toca a superfície trazendo um Super-Homem que é visto como imigrante e abordando de forma crítica o intervencionismo americano. No entanto, ao mesmo tempo que o intervencionismo americano é criticado de forma caricata na figura do bilionário Lex Luthor, os super-heróis são vistos como uma força de necessária para a justiça, dando a entender que os países que são vítimas são bando de gente pobre com pedaços de pau na mão que precisam ser salvos por um “ser superior” (ou seria civilizado?).
E convenhamos, o gênero já está saturado. Há várias outras mídias contando histórias “realistas” sobre super-heróis que, na verdade, são a mesma coisa só que com sangue, vísceras e sexo, como é o caso de The Boys (Amazon) ou da animação Invencível (também da Amazon), que são obras bem interessantes, mas que reconstroem um mundo que já estamos cansados de ver e que está apenas “fantasiado” de adulto, de sério, de dramático, quando, na verdade, não é.
No entanto, eu prefiro filmes de super-herói “sem máscara”. A Marvel tem tentado se levar mais a sério, com heróis com mais tons de cinza que são o alívio cômico de si mesmos, no entanto, isso as vezes fica forçado. É como servir um Big Mac numa bandeja de prata para se comer com garfo e faca. Superman, pelo contrário, traz uma aventura de super-herói raiz, sem medo de ser o que é: fast food midiático, entretenimento para crianças e adultos que têm saudade de um tempo onde havia esperança de que o futuro seria brilhante.
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