Da prática de escrever (em diários).

 

Querido diário, digo, querida Pessoa-Que-Lê.

Se hoje eu sou escritor devo muito a minha mãe, que era professora daquelas que dava aula de reforço. Ela começou muito cedo. Conta que ainda jovem, uma adolescente, já era chamada de senhora porque era professora e, como ela cresceu ensinando o filho dos outros, me ensinou também.

Esse post foi publicado primeiro na minha news letter no Substack em 05 de agosto de 2025. Se você quer receber esses textos no seu e-mail assim que forem publicados, Por favor, se inscreva aqui.

Me lembro de muitas tardes onde ela me mandava ler pra ela e fazer redações e então, um dia começou a passar na TV Cultura esse desenho sobre um garoto que era estimulado a expressar seus sentimentos e que tinha um diário. Doug, ao menos na fase que eu peguei na cultura, era um desenho americano que talvez tenha formado parte do meu caráter, pois me permitiu escapar daquela armadilha do patriarcado de “homem não tem sentimentos” porque a gente tinha aqui um garoto que tinha uma paixão platônica e que escrevia num diário.

Então, eu comecei um diário desde então.

Tem muita gente que não escreve diários porque acha bobo. “Pra que eu vou escrever sobre o que aconteceu no meu dia? Eu mesmo talvez nem leia isso”, você pode me dizer e talvez você esteja certa, você não vai ler. Mas a prática de escrever tem muitas vantagens.

Ao escrever você elabora coisas que talvez não o fizesse no tempo da fala, ou mesmo no tempo do pensamento. Quando eu falo de tempo aqui não estou dizendo do tempo do relógio, mas dos nossos próprio ritmo de fazer as coisas.

Em tempos de vídeos curtos sobre qualquer coisa numa tela de alta resolução na palma da sua mão, pensar sobre si mesmo as vezes é difícil. E o ideal é fazer terapia, sempre, mas manter um diário também ajuda muito a elaborar certas coisas.

Fora que, o prazer de escrever é um fetiche por si só.

Eu particularmente tenho colecionado canetas-tinteiro e cadernos. Tenho de todos os tipos, capas de couro, capas de madeira, capas simples cartonadas com uma estampa qualquer.

Um caderno e algumas das minhas canetas tinteiro (não tem 10% aí).

Pesquisadores dizem (não vou procurar a fonte, pesquise você, mas juro que vi em algum lugar) que escrever também ajuda com a memória e a atenção. E de fato, depois que eu lembrei que escrevia diários - as vezes eu esqueço -, reconheço que minha atenção e meu tempo de leitura melhoraram significativamente.

Além disso, é um treino pra quem quer ser escritor.

Eu amo escrever, mas, as vezes, a gente não tem saco nem pra fazer aquilo que ama. Digo, nem sempre eu quero escrever um texto ficcional, as vezes eu só quero escrever. Então fico ali colocando no diário meus pensamentos mirabolantes, não necessariamente conto o que aconteceu no meu dia, aliás, raramente faço isso, mas eu mantenho um diário mais de pensamentos do que de acontecimentos triviais. E isso serve de treino pra quando eu preciso escrever literatura.

E você? Eu te desafio. Será que você consegue descrever o que pensa, o que sente, num diário? Se der certo, me conta.

E falando em diário, gente eu vou falar sobre a dimensão metafísica aqui eventualmente, me aguardem!

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