Os segredos do escorpião: Capítulo 1


Concept art do capacete de Scorpion. Design por Fernando Barbosa.

Leitores e escritores. Nessa semana todo mundo sabe que lancei no Wattpad o meu livro Escorpião Amarelo que é ambientado num universo inspirado nos Tokusatsu, séries japonesas que desembarcaram aqui no Brasil na década de 80.

Bom, nessa coluna irei falar um pouco sobre as inspirações e curiosidades dos "episódios" dessa história. Vamos começar?

EPISÓDIO 1: "O perfil de um herói"

Antes de qualquer coisa é necessário ressaltar que a maior fonte de pesquisa para este livro foi a minha própria infância, pois eu como a maioria dos garotos que nasceu na década de 80 assisti na extinta Rede Manchete os seriados que marcaram a geração.

São seriados hoje conhecidos por “Tokusatsu”, que são muito mais do que começaram como uma versão japonesa dos ditos super-heróis ocidentais.

Antigamente Klark Kent se tranformava no Superman numa cabine telefonica.

O termo Tokusatsu pode ser traduzido como "filme de efeitos especiais" e começou a tomar força com o sucesso estrondoso de Godzilla. Com a popularização da TV o gênero acabou tomando seu próprio espaço, onde também surgiram os sugêneros Metal-Hero e os Super Sentai

Ambos se referem a personagens que, em algum momento, se transformam revelando seus verdadeiros poderes, assim como o Superman clássico fazia na cabine telefônica. A grande diferença é que estes heróis são obviamente carregados de cultura oriental e revelam trejeitos bem peculiares desta.

Os tokusatsus do estilo metal heros surgiram mais ou menos na mesma época da popularização dos Super-Heróis dos quadrinhos norte americanos que ganharam suas próprias séries de TV, e isso ocorreu entre as décadas de 50 e 60, abrangendo em grande parte as eras de ouro e prata dos quadrinhos.

Com a popularização destes seriados, vários países começaram a fazer os seus próprios super-heróis para a TV. Aqui no Brasil temos como um expoente da época o Capitão AZA exibido pela TV Tupi na década de 70.

Capitão AZA, um dos primeiros super-herois brasileiros.

No entanto, o marco da invasão japonesa nesse meio foi o famoso seriado intitulado National Kid que, a princípio havia sido criado para divulgar a empresa nipônica National Eletronics Inc, hoje conhecida como Panasonic. Daji Kazumine, um escritor de mangá, o estilo de quadrinhos japoneses que estava nascendo na época, foi incumbido da tarefa de criar o herói nipônico para TV, e acabou se tornando um sucesso mundial. Este escritor também ficou famoso por outro Tokusatsu muito famoso: Spectreman

Uma curiosidade dos Tokusatsu é que a maioria destes heróis tem poderes tecnológicos sendo a principal característica deles o uso de uma armadura cibernética que as vezes também é uma mutação advinda de poderes místicos, alienígenas e tecnológicos. Você não leu errado. Os japoneses tem essa mania de misturar vários tipos de culturas e referências nessas histórias. 

O visual destes heróis era, na maioria das vezes, coincidente com o a aparência de um motoqueiro: jeans, jaqueta de couro, ou colete e luvas. Por isso nesta história Scorpion se veste como um e frequenta um bar de motoqueiros. 

Esta talvez tenha sido uma influência da série Kamen Rider, onde a maioria dos heróis eram de fato motoqueiros. Outra coisa interessante é que nas séries mais recentes, os heróis, mesmo se interpretados por adultos, dão a entender que são adolescentes ou jovens, que apesar de bravos e dedicados são extremamente imaturos, como é o caso de Jaspion, por exemplo. 

Franquia Kamen Rider, uma das inspirações do livro

Há também na cultura nipônica a prática da incorporação de palavras do inglês em muitas expressões, por isso muitos seriados desta época possuem títulos que mesclam os dois idiomas como é o exemplo de Kamen Rider, onde “Kamen” significa máscara, ou mascarado no japonês e Rider é a palavra inglesa para “motoqueiro” ou cavaleiro (no sentido de cavalgar). Isso também acontece em títulos como “Juspion”, conhecido no Brasil como Jaspion que é a abreviação arbitrária da expressão “Justice Champion”. 

Por isso o título original deste livro era em inglês: “The Heroic Amazing Scorpion”, ou THAScorpion (pronuncia-se “tcha”). Mas isto também é na verdade uma espécie de piada pessoal. Quando eu era pequeno eu tinha a estranha mania de criar versões “minhas” dos meus heróis favoritos. Logo, eu tinha o “Super Tiago” que era minha versão super-herói, e mais tarde o Thascorpion, que era a minha versão Tokusatsu sendo que na verdade o nome original era Tiascorpião, que obviamente é a junção do meu nome com o meu signo do zodíaco, uma influência de Cavaleiros do Zodíaco. Mas para completar, como tudo sempre acaba sendo “abrasileirado” decidi optar por um nome completamente em português, daí “Escorpião Amarelo”. 

Outra coisa que não passará despercebida é o emprego da palavra “Godzilla” usada como adjetivo para “monstro gigante”. Esta criatura é tida por muitos como “a personificação do medo nuclear”, pois ele mesmo é fruto de uma mutação causada pela explosão de uma bomba nuclear. Mais tarde, nos Tokusatsus, monstros gigantes seriam combatidos pelos heróis metálicos japoneses e para se defender eles teriam robôs gigantes.
  • Leia a história a que esse texto se refere aqui.

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