Analisando o livro Pai Rico Pai Pobre


Ano que vem (2017) fará 20 anos que Robert Kiyosaki mudou a cara das prateleiras de "economia" das livrarias de todo o mundo... Ou será que falamos das prateleiras de "auto-ajuda/ motivação"? Não querendo entrar em tal mérito é possível que tenhamos que discutir aqui qual o verdadeiro impacto e objetivo deste livro que é até hoje um dos mais conhecidos tomos sobre o assunto.

A PSICOLOGIA DA AUTO AJUDA

Não existe consenso no que se refere a obras desse tipo entre os psicólogos. Mas posso garantir que a grande maioria torce o nariz para obras desse tipo, isto porque geralmente elas não têm embasamento teórico.

Isto porque alguns livros desse tipo prometem apresentar Segredos para o equilíbrio emocional (leia: sucesso) vindos da experiência do autor, ou até mesmo apenas de suas deduções.

A psicologia age com muito tato na hora de fazer "promessas", até por que isto é completamente fora do que poderíamos considerar "ciência". Principalmente quando a única ferramenta de ação que o suposto guru tem para mudar a vida da pessoa é um texto.

TENDO OBSERVADO ISSO...

É importante ressaltar que apesar de várias críticas ao verdadeiro tamanho da fortuna do autor deste livro, e até mesmo de controversas afirmações de que a história da obra não é verdadeira, o que segundo o autor diz "não importa", Pai Rico Pai Pobre é um belo exemplo de Storytelling Motivacional, se é que podemos dizer isso.

AFINAL DE CONTAS...

Estamos passando por um período de crise e ando trabalhando muito para manter o meu padrão de vida, muito mais do que o dobro do que trabalhava antes das coisas ficarem do jeito que estão. Como ferramenta de relaxamento, já que passo meu horário de almoço praticamente todo dentro de um ônibus, eu tento ouvir o rádio, podcasts, e músicas.

"Foi então que a obra de Kiyosaki foi parar na minha playlist por um acaso do destino."

Ao ouvir aquele audio-livro, acompanhei o autor por uma tragetória narrativa que passa por uma infância, juventude e início da fase adulta, cheia de aventuras e lições reveladores que me inspiraram a me livrar da rotina opressora do emprego. Me senti acompanhando o autor em suas negociações enquanto era apoiado pelo Pai Rico e observava o exemplo a não se seguir do Pai Pobre... Entendeu?

A NARRATIVA FABULOSA:

É muito mais fácil contar uma historinha do que explicar um conceito através de um texto seco. Acredito que seja por isso que Kiyosaki tenha comparado certa vez seu próprio livro a Harry Potter. Isto porque, se a intenção é apenas motivar a história não precisa ser real, isso é, se você sabe qual reação quer arrancar do leitor.

Quando contei a minha história ali do horário de almoço fica muito mais fácil imaginar o momento em que li o livro, falando da crise que afeta a grande maioria da população fica muito mais fácil do leitor se identificar. E assim eu consigo vender meu argumento muito mais fácil do que explicando pra você em tópicos entediantes por que ela é boa ou ruim. Ponto para o autor.

TEMAS DE FAMÍLIA SEMPRE CAUSAM  COMOÇÃO

De Star Wars a novelas mexicanas, sempre que se precisa de uma comoção se apela para a família, afinal de contas esse é um dos temas mais fácil de obter identificação do público. A grande maioria das tragédias gregas, por exemplo, aborda tais temas.

No livro o autor corrige um erro que tinha cometido quando tentou vender essa mesma história em 1992, quando seu pai rico era, a princípio, seu próprio pai.

Já no seu Best-Seller, o pai pobre representa a sociedade opressora que escraviza as pessoas e impede que elas tenham sua liberdade, digo... Autonomia financeira. 😉. E eu já expliquei no artigo sobre Star Wars e a Psicanálise por que os melhores "antagonistas" são os pais.

OS CRÍTICOS DA OBRA SUBESTIMAM O LEITOR

Eu tenho que confessar que ao ler a obra fiquei fascinado tal qual um teórico de conspiração deve ficar quando assiste Matrix pela primeira vez.

No entanto, se você tiver mais do que dois neurônios vai entender que a coisa toda é uma alegoria motivacional, não uma receita de bolo para o sucesso. Aliás, a grande maioria desses livros é uma coisa muito mais "filosófica" do que uma promessa de enriquecimento instantâneo, até por que esse tipo de coisa não existe.

Eu gosto de motivação, seja na forma de palestras, livros ou até mesmo filme, só não gosto daquelas que vendem soluções milagrosas envolvendo pseudociência ou religião. Estas boas mídias me dão uma energia positiva. O que diferencia o fanático otário do consumidor comum é o que fazer com esta energia. Você pode se empenhar mais no trabalho, quem sabe tentar abrir um negócio paralelo a sua prática profissional... Ou então largar o emprego e começar a "mentalizar" seus desejos achando que tudo vai cair do céu... Ou pior, entrar pro "Marketing Multi-nível".

Mas, como de praxe, eu procurei as criticas ao livro e todas elas se baseavam em acusações de que a história era mentira, que o autor não era tão rico quanto dizia, e de que ele incentivava a cometer crimes fiscais.

O fato é que, há trechos no livro que podem ser mal interpretados.

Em certo ponto o autor diz que "os ricos não pagam impostos", o que se você for observar é algo bem próximo da realidade, principalmente aqui no Brasil. No entanto em outros trechos ele dá exemplos de como isso pode acontecer, de como os ricos transferem seus bens para pessoas jurídicas e sociedades anônimas e ainda alega que "os ricos não têm nada em seu nome".

A seguir ele segue falando que a maioria das pessoas ricas, de certa forma, não obedecem as regras. E aqui eu repito que também não está longe de ser verdade. No entanto, algumas pessoas acusam o autor de incentivar o crime.

Eu, que tenho mais do que dois neurônios, preferi entender o contexto geral da coisa que diz basicamente que as pessoas que enriquecem são aquelas que vêem aquilo que os outros não enxergam.

... Mas como eu também sou um autor de romance de teoria de conspiração tenho que reforçar esse lance de que os ricos não jogam pelas regras. Mas aí eu vou fazer igual o Kiysoaki e também dizer que não estou falando que você deva cometer crimes pra ficar rico, porque (geralmente) isso não dá certo.

Mesmo quase 20 anos depois da sua publicação o livro continua atual.

Robert Kiyosaki pode não ser nenhum gênio dos negócios, mas e daí? O cara é sim um gênio da literatura de auto-ajuda, afinal de contas o seu texto foi muito bem escrito e atinge o sucesso em seu objetivo: motivar pessoas!

Eu acredito que qualquer ferramenta que cause uma reação é valida e quando se trata da partida para a ação, se este livro te fez ter iniciativa para mudar algo, já valeu a pena. Mas, mesmo sendo muito bom (no meu ponto de vista), o leitor precisa ter em mente que a coisa toda é uma história que vende uma "filosofia", uma forma de pensamento e quem sabe, até uma catarse momentânea.

Além disso, o autor se descreve no próprio livro como um excelente vendedor, não se comparando nem mesmo a um bom escritor, dizendo que ser "um bom vendedor de livros ganha mais do que um bom escritor".

É importante lembrar que Pai Rico Pai Pobre não fora o primeiro livro do autor, que tentou emplacar sua filosofia que diz que "a escola não vai te ensinar a ficar rico" duas vezes antes de escrever Pai Rico Pai Pobre.

Agora, se você está procurando uma "receita de bolo para o sucesso", vai ter que continuar procurando.

Não acredite em mim. Leia o livro:

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