Catarse Coletiva


Uma filha e uma esposa acompanham angustiadas enquanto, com o temor de que sua vida esteja sendo colocada em risco, o pai protesta e tenta se proteger.

E as pessoas assistem e comemoram enquanto tudo isso é transmitido pela TV.

É de fato um cenário cruel que vai contra tudo aquilo que prezamos por sensato. Mas nada acontece sem um contexto. No artigo em que falo sobre o ódio nas redes sociais, vemos que a crise pode ajudar a fomentar ânimos exaltados.

Além disso, existe uma clara insatisfação da população em relação a política brasileira, 

e quando uma das pessoas, no caso esse pai, é um dos políticos com uma fama extramente negativa, fica claro que haverão aplausos nesse tipo de situação. Mesmo que, se olharmos do ponto de vista racional, a coisa esteja sendo injusta.

Mas será que podemos esperar uma atitude ponderada e racional de um povo cujos direitos mais básicos estejam sendo violados? 

Ou que, apesar de serem funcionários públicos de carreira estejam sem receber e vejam sua família em risco quando toda a culpa disso é atribuída a personagens como esse pai? Que muitas vezes enfrentam condições de trabalho precárias e se vêem impotentes diante do sofrimento das pessoas que dependem do seu trabalho?

É, de fato, errado. Não é justificável... Mas seria compreensível?

Somos seres humanos. Talvez o ambiente em quem vivemos não devesse ser desculpa para atos cruéis desprovidos de racionalidade. No entanto, quando nos falta a segurança, o instinto talvez consiga falar mais alto do que pensamento racional. Isso não deveria ser aceitável, não deveria fazer parte do cotidiano de uma sociedade humana... Mas faz.

Será que estamos deixando, aos poucos, de ser humanos?

Talvez a resposta seja um tanto mais pessimista e sombria. Afinal de contas o conceito de humanidade esteja próximo um "ideal" imaginário, pois todos sabemos que somos atravessados por sentimentos positivos e negativos. Ao suprimir nossos sentimentos, aí sim talvez estejamos deixando de ser humanos.

Mas até onde isso é tolerável?

Até que ponto é compreensível colocar nossos sentimentos acima do outro? Falamos aqui não apenas do ponto de vista racional, mas também da capacidade que se tem de se conter ou controlar tais energias psíquicas. Talvez, em certas ocasiões isso simplesmente não seja possível.

Você conseguiria se controlar se a pessoa vítima de tal "cena" tivesse lhe prejudicado diretamente? Ao mesmo tempo, você consegue pensar em como iria se sentir se ele fosse um parente seu?

Porém, são tempos sombrios os que vivemos. E quando a insegurança impera e o básico ameaça a faltar se esvazia primeiramente a prateleira do "bom senso".

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