Dirk Gently e o pensamento mágico


Dirk Gently's Holistic Detective Agency (2016) é uma produção britânico-americana, protagonizada por Samuel Barnett (conhecido recentemente por sua participação em Penny Dreadful) e Elijah Wood, inspirada numa história de Douglas Adams (Autor de O Guia do Mochileiro das Galáxias) onde um detetive usa o princípio "holístico" para solucionar casos.

A série recheada de ficção científica nos dá direito a viagens no tempo, brinca com a teoria do caos além é claro de render bastante aventura e risadas com seu humor de tempero claramente brintânico e que lembra muito produções Doctor Who e Sherlock, mas que por vezes tem um tom um pouco mais sério o que me fez lembrar das histórias de Neil Gaiman.

DETETIVE HOLISTICO?

A série se baseia no princípio de que tudo acontece por alguma razão, ou seja, tudo tem uma "causalidade". Isso acontece porque assim como "a força" de Star Wars (ou no budismo), tudo estaria conectado sendo todos os eventos parte de uma grande reação em cadeia que começou no próprio princípio do universo.

Não é atoa que na série vemos muitos personagens dizendo "o universo vai fazer isso" ou então, tal coisa vai acontecer porque é o meu "destino".

Dirk Gently descreve que está "predestinado" a solucionar os casos nos quais se envolve, e por isso não se importa muito com o que vai fazer para chegar a este fim, já que, se isso é o seu destino, uma sequência de fatos - para ele - aleatórios irá lhe conduzir inevitavelmente a solução. Não importa quanta bagunça o confuso e desengonçado personagem crie em seu caminho.

E O QUE ISSO TEM A VER COM PENSAMENTO MÁGICO?

O pensamento mágico é uma espécie de dissonância cognitiva onde o sujeito atribui uma causalidade errada a um determinado evento. Por exemplo: tem gente que acha que o seu time pode perder o campeonato de futebol se, durante os jogos, não estiver usando sua "cueca da sorte" quando na verdade não existe nenhuma relação causal entre os dois eventos.

Isso acontece porque nosso cérebro é na verdade uma máquina de associações. Quando estávamos nas cavernas, fazia muito mais sentido estar preparado para reagir a qualquer coisa que estivesse potencialmente associada ao perigo do que deixar de reagir numa situação onde o perigo fosse real.

As associações foram ficando mais complexas de acordo com a nossa evolução, o que nos possibilitou alcançar o pensamento abstrato nos tornando capazes de deduzir uma gama enorme de eventos como o melhor período pra caçar, depois a época certa de plantar e colher e etc. Mais tarde nos ajudou a desenvolver a linguagem, e depois a escrita: peças-chave para a nossa civilização atual.

Mas isso não veio sem custo, pois, até hoje, em pleno Século XXI os seres humanos tendem atribuir causalidades sem sentido a determinados eventos mesmo que se tenha consciência da ausência de uma lógica real.

Na série, alguns personagens agem por pura intuição fazendo associações em parte aleatórias, pois acreditam estar predestinados a cumprir seus objetivos, pois isto seria uma tendência natural do universo. No entanto, obviamente na série isto não é pensamento mágico: é um super-poder.

Alguns dos personagens usam este talento que eu descrevo como o "poder de conhecer 'mais ou menos' (piada da série) o seu destino", para "bugar" o universo. Dou destaque aqui a personagem Bart (Fiona Dourif) que é uma assassina que usa esse verdadeiro super-poder para surfar "nas ondas da entropia" e assim se tornar praticamente "invulnerável", sendo descrita por um dos personagens como uma espécie de "anjo da morte".

A pergunta que fica é, na vida real, se você conhecesse o seu destino poderia fugir dele? Ou, segundo a teoria do caos, conhecer o seu destino não iria altera-lo? Mas e se conhecer o seu destino fizesse parte do seu destino?

Enfim, a produção é excelente, e, salvo por aquela gordura ali no meio da história, típica da maioria das séries de TV, te prende do início ao fim tendo apenas 8 episódios de cerca de 40min cada. A primeira temporada já está disponível no Netflix e a série já se encontra renovada para a segunda.

Comentários

  1. Não sabia dessa série, li o livro do Douglas Adams com o esboço dos primeiros capítulos (parece que ele morreu antes de terminar) e fiquei muito curiosa pra saber que final ele teria dado a história! Assim que li Dirk Gently sabia que conhecia o nome de algum lugar, e pelo que me lembro dos capítulos do livro que li, o Dirk realmente não faz nada pra solucionar os casos que ele está trabalhando hahah'

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    1. Não li a obra original, mas a história está excelente na série. E tem uma pegada BEM Douglas Adams mesmo.

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