Resenha Doom (2016)


Criada em 1993 pela empresa ID Software, Doom é uma franquia de jogos que ajudou a consolidar o gênero FPS (jogos eletrônicos de tiro em primeira pessoa) onde você encarna um fuzileiro espacial sem nome que precisa sobreviver a uma invasão de demônios em Marte. Depois de dois jogos publicados em quase todas as plataformas de games possíveis, a franquia foi revivida em 2004 em um reboot que foi recebido pelos fãs com ressalvas, agora a franquia retornou de sua tumba (novamente) em meados do ano passado na mão da gigante dos games Bethesda, responsável por sucessos memoráveis como Skyrim (da série de jogos Elder's Scrolls) que já havia revivido outro clássico da ID, Wolfenstein, considerado por muitos o primeiro FPS a fazer sucesso na história dos videogames.

UM CAPÍTULO DA HISTÓRIA DOS GAMES

Antes de falar de Doom (2016) é preciso entender o contexto deste jogo. A ID Software, liderada pelo famoso programador John Camack, era uma empresa que não era focada exatamente na produção de games, mas sim no desenvolvimento de engines, que são softwares que os produtores usam para construir os seus jogos. Por isso, a empresa não era muito famosa por criar histórias de jogos que fossem muito cativantes. No entanto, no início da década de 90 isso era praticamente irrelevante, posto que a maioria das trama dos jogos de videogame eram poucas linhas num manual de instruções ou um texto ou outro no meio da jogatina.


Gameplay do game original.

Para ter ideia disso, o jogo lançado antes de Doom, ou seja, Wolfenstein 3D, se ambientava num castelo mal assombrado durante a segunda guerra mundial onde você enfrenta nazistas, zumbis e criaturas sobrenaturais cujo chefão final é ninguém menos do que Adolf Hitler que pilota um robô que tem metralhadoras giratórias no lugar das mãos.

Carmack percebeu que não bastava apenas criar novas tecnologias de videogames, mas demonstrar sua eficiência através de jogos populares. Foi daí que nasceu a ideia de Doom, cujo principal objetivo era demonstrar novos efeitos de luz e labirintos com níveis diferentes. A inspiração para a história "gore" veio de uma aventura de Dungeons and Dragons onde o mundo era invadido por demônios.

INAUGURANDO A ERA DAS POLÊMICAS NO MUNDO DOS VIDEOGAMES:

Lançado apenas um ano depois do também polêmico jogo de lutas Mortal Kombat (1992), Doom chamava a atenção por sua violência explícita, mesmo que as criaturas que mortas durante o jogo fossem demônios e zumbis. Mas o que atraiu ainda mais publicidade negativa a franquia foi o massacre de Columbine onde dois adolescentes entraram numa escola disparando armas de fogo contra os amigos. Na investigação se descobriu que eles não só jogavam Doom mas também mantinham um blog onde publicavam mapas personalizados do jogo.

Os estudantes executores do massacrede Columbine eram "modders" de Doom.

A partir daí foi reforçado o discurso de alguns grupos da sociedade que diziam que os videogames poderiam influenciar comportamentos violentos em crianças e adolescentes e foi criada uma classificação etária para os jogos. Hoje em dia, apesar da classificação ainda existir, ainda não há nenhuma evidência científica de que jogos eletrônicos possam efetivamente induzir uma pessoa contra a sua vontade a fazer qualquer coisa (seja ela positiva ou negativa).

OUTRAS REVOLUÇÕES QUE DOOM TROUXE AOS GAMES:

A franquia Doom também revolucionou o mundo dos jogos de diversas formas:
  • Primeiramente, o primeiro Doom foi um dos primeiros jogos a lançar o conceito de "jogo demo", ou seja, uma parte gratuita do jogo em que você podia jogar a vontade antes de decidir comprar a versão completa.
  • Também foi um dos primeiros jogos a ter modos multiplayer jogados através da internet (sim, na decada de 90).
  • Outro detalhe importante são os "mods", que são pacotes de modificações do jogo feitos pelos próprios jogadores o que tornou a sobrevida do jogo muito extensa e podemos dizer que dura até hoje.

A VERSÃO DE 2004.

Apesar de não ter muitas críticas, o jogo fora recebido com pouco entusiasmo pelos fãs, principalmente por mudar um pouco a cara do jogo que se tornou mais lento e mais escuro, ao contrário dos dois primeiros jogos da franquia. No entanto, o principal objetivo deste jogo também era lançar uma nova engine da ID Software que foi bem-sucedida.

A versão de 2004 do game trouxe gráficos incríveis para a época. Resultado da nova engine da ID Software.

AGORA SIM, EM 2016.

O reboot de Wolfenstein passou quase despercebido pelos fãs da ID Software, no entanto quando foi anunciado um novo reboot de Doom todos foram a loucura. O jogo novamente te coloca na pele de um personagem sem nome que dessa vez não é um mero militar lutando pela sobrevivência, mas sim um verdadeiro assassino de demônios com um passado que nos é revelado ao longo do jogo.

JOGABILIDADE VICIANTE

O Doom de 2016 nos traz uma jogabilidade visceralmente viciante. A Bethesda trouxe de volta dos anos 90 a velocidade dos jogos de primeira pessoa. Hoje em dia os FPS tentam chegar o mais próximo possível da realidade, no entanto, jogos como Doom e Quake eram insanamente rápidos. Os personagens ainda eram capazes de dar saltos surpreendentes e suas armas não precisavam ser recarregadas. Tudo isso você encontra novamente no reboot com uma explicação um tanto rasa na história do jogo, mas quem se importa?


O game traz de volta os verdadeiros labirintos cheios de segredos e para reforçar ainda mais o ato do jogador explorar estes mapas, também traz agora elementos de RPG. Os segredos dos mapas ajudam o jogador a incrementar a armadura do personagem e suas armas. Além de conterem verdadeiras homenagens aos jogos antigos da franquia.

Além disso, o sistema de "glory kills", um modo de batalha em que o jogador pode finalizar um dos monstros de uma forma extremamente violenta, somado a velocidade do jogo faz com que a mecânica se torne extremamente fluida fazendo com que o jogador seja induzido a aperfeiçoar ainda mais sua técnica tendo em vista tornar a partida mais rápida e brutal.

JÁ O MULTIPLAYER SÓ IRÁ CONVENCER OS FÃS.

Apesar de ser um "slash and hack" em primeira pessoa, Doom decepciona um pouco no modo multiplayer que simplesmente imita os sistemas de jogos como Unreal Tournment cuja mecânica na minha opinião encontra-se ultrapassada. Além disso, muito dos pontos positivos da campanha singleplayer como os glory kills ou mesmo as batalhas com monstros gigantes pouco aparecem ou simplesmente se tornam irrelevantes neste modo de jogo.

A versão multiplayer original do jogo deixa a desejar

Foi dito que a intenção da Bethesda seria fazer de Doom sua porta de entrada para os e-sports, mas até hoje, quase um ano depois do lançamento do jogo, pouco se diz de campeonatos do mesmo ou de equipes profissionais de jogo.

O QUE VAI TE IMPRESSIONAR SÃO OS SNAP MAPS

Por outro lado, Doom também vem com um modo onde o jogador pode criar seus próprios mapas e publicá-los na comunidade do game usando um sistema oferecido dentro do próprio software do jogo, além é claro de receber de braços abertos os tão famosos "mods" que podem garantir anos de sobrevida para o jogo ao exemplo de outros títulos da Bethesda como o próprio Skyrim.

Dá pra jogar Doom clássico dentro do Doom 2016 seja através de Mods ou nos "segredos" dos mapas.

Este modo de jogo permite até mesmo que jogador crie continuações da campanha, com direito a narrativa. Também é possível criar mapas cooperativos e multiplayer o que já rendeu a produtora uma comunidade dentro do jogo de milhares de pessoas.

Um dos mods mais famosos até agora é uma recriação do primeiro jogo da franquia.

E A HISTÓRIA?

Que história? Estamos falando aqui de um jogo que se inspira na década de 90, onde como já dissemos os jogos tinham pouca ou nenhuma narrativa.

Porém a Bethesda acertou no método narrativo deste jogo que deixa a história praticamente de lado, ou a conta enquanto você arranca cabeças de demônios. Seguindo o exemplo de Diablo III, a narrativa é contada sem "parar" o jogo, através de audios encontrados ao longo dos mapas ou mesmo em curtos diálogos entre uma missão e outra.

Um dos pontos interessantes é que o protagonista se recusa o tempo todo a interagir com outros personagens. Ao exemplo de jogos como "Portal" e "Half Life", o personagem principal de Doom, ou como a comunidade do jogo costuma chamá-lo, o "Doom Guy" (literalmente "o cara do Doom"), é um personagem mudo que insiste em destruir tudo em seu caminho lembrando Kratos em God of War.

Hologramas, mensagens de voz e textos estão espalhados pelos mapas do jogo. Você pode prestar atenção ou não.

Mesmo diante da morte de um dos personagens da trama, Doom Guy chega a impedir o diálogo de despedida do mesmo não deixando que o ritmo brutal do jogo seja interrompido.

No entanto, se como eu, você gosta desta história de terror que parece saída de um filme b, há diversos arquivos espalhados pelo jogo na forma de textos que contam em detalhes as histórias dos personagens, armas, monstros e cenários do jogo. O que lembra muito um manual de instruções fazendo mais uma referência ao jogo original.

O QUE HÁ DE DIFERENTE NA HISTÓRIA?

Se você gosta da história deste jogo é importante destacar que ela é muito mais covarde do que o primeiro, principalmente no final. Mas alguns pontos são geniais como o fato de explicarem por que alguns demônios do jogo têm apêndices "cibernéticos" em seus corpos, ou mesmo qual a história por traz do Cyberdemon.

Por outro lado, a narrativa peca ao tornar mais complexa do que o necessário a história por traz da abertura do portal para o inferno tentando cumprir a tarefa semi-impossível de explicar o non-sense que contextualiza o game.

MAS EM FIM, VALE A PENA JOGAR?

Doom 2016 é uma verdadeira obra-prima no que se refere a reboots de jogos clássicos. Ele homenageia de forma eficaz essa franquia infernal que fez parte das nossas infâncias além de adicionar elementos incríveis a mesma.

O principal trunfo deste jogo é conseguir reproduzir com um sucesso sem precedentes o clima do jogo original com destaque mais do que merecido a trilha sonora do jogo composta por Mick Gordom recheada com New Metal que pontua as cenas de ação do game e ajuda o jogador a se ambientar no ritmo da evisceração demoníaca.


O título se torna então obrigatório para todos aqueles que, assim como eu, eram fãs dos games da década de 90 e desejam reviver aquela época tão mágica de um jeito renovado e graficamente belo.

Aliás, um dos pontos negativos do jogo é justamente esse: o gráfico. O apesar de extremamente belo, o game não é otimizado para computadores mais "populares" exigindo um bom equipamento para ser jogado mesmo nas configurações mais baixas e se candidata a ser o Crisys desta geração. Aliás, mesmo tendo comprado um notebook recentemente, tive dificuldades para alcançar uma taxa de frames por segundo superior a 30fps mesmo usando um processador Intel Core i5 de última geração, 8Gb de Ram e uma GeForce 940M.

Outro fato importante é que, mesmo tendo ficado muito empolgado com o jogo e ser agradecido pela Bethesda ter pensado nos fãs old school da franquia, fica claro que talvez o título seja recebido por muita estranheza por aqueles que estão acostumados a franquias como, por exemplo, Call of Duty ou Counter Strike.

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