A Psicologia de Rick e Morty



Rick e Morty (2013 -) é uma série animada protagonizada por Rick, um excêntrico cientista e seu neto Morty. Abordando a maioria dos jargões da ficção científica a animação também traz nas aventuras da inusitada dupla filosofia e psicologia, regados por muito sangue e ironia obedecendo os moldes de séries de sucesso como Simpsons, Family Guy e outros.

Os protagonistas aventuram-se por conceitos científicos como multiverso, viagens interplanetárias, teoria do caos e muitos outros. Mas o destaque que dou aqui é para a psicologia quando a narrativa aborda conceitos como relacionamentos interpessoais e até mesmo críticas a nossa sociedade e a nossa percepção de mundo.

ANALISANDO OS PERSONAGENS.

Rick, o cientista super-gênio:

Rick é um personagem excêntrico que por vezes atribui sua falta de tato social a sua inteligência superior. Extremamente pragmático o personagem é capaz de sacrificar mundos e até mesmo entes queridos para resolver um problema.

Mas há uma outra camada na personalidade desse cientista louco. Em certos episódios é dito que uma frase quase incompreensível que o personagem insiste em repetir na verdade seria um pedido de ajuda, pois ele estaria em sofrimento. O mesmo também é um alcoólatra, o que já fica claro logo no primeiro episódio e pouco de seu passado nos é revelado pressupondo que possa haver algum trauma ou arrependimento em sua vida, e isso explicaria sua irritabilidade e falta de empatia em certos momentos.

Por outro lado, esses fatores de sua personalidade também poderiam ser explicados pela exposição prologada ao caos permanente que parece ser o universo onde a história se passa, onde regras mudam o tempo todo - incluindo as da física - e a humanidade parece ser irrelevante diante de todo o cosmos.

Morty, o adolescente "nem tão genial assim".

Sua contraparte Morty, é praticamente um personagem que nos leva por esse universo louco de Rick, e permite que a narrativa nos explique o que está acontecendo através dos diálogos entre ele e seu avó. Morty também exerce um papel de trazer o avô um senso de consciência e por vezes até mesmo um senso de moral que é sempre posto entre parêntesis e questionada por Rick ou pela própria natureza do universo apresentado no desenho.

Morty se mostra sempre muito mais empático e sensível que seu avô, no entanto, mesmo a série sendo episódica, é perceptível uma evolução do adolescente ao longo da narrativa que se torna um pouco mais maduro e menos apegado a cultura humana. A série também deixa claro o quanto as aventuras bizarras da dupla afetam a psiquê do adolescente, mesmo que seja através de gestos sutis como algumas falas do personagem ou mesmo reações.

Aliás, há um episódio em é ressaltado que papel de Morty seria contrabalancear de certo modo a existência de Rick.

DESTRUINDO O CONCEITO DE PERSONA:

É importante ressaltar que, na prática, no fim de todos os episódios (exceto os de fim de temporada), obedecendo a estrutura das séries episódicas tudo retorna ao normal no fim de cada capítulo. No entanto, vemos sempre a morte de vários personagens, mesmo que eles venham a ser substituídos por versões de si mesmos de outras realidades ou universos, o que nos leva a questionar quem são aquelas pessoas.

Nossa personalidade é composta de aspectos biológicos, sociais e psicológicos. Os aspectos biológicos são aqueles que herdamos em nosso DNA; os sociais são a influência que sofremos do mundo a nossa volta; e por fim, o psicológico é o processamento mental que damos a esses dois.

Nossa mente, quem nós somos, é composta por um conjunto especifico de memórias processadas de uma determinada forma. Quem nós somos agora é diferente de quem nós seremos amanhã, afinal de contas em 24h podemos passar por várias experiências que mudam quem nós somos. Obviamente existem traços mais sólidos em nossa personalidade que dificilmente mudarão, mas comparativamente, a cada experiência que vivemos nos tornamos outra pessoa.

Portanto, mesmo sendo biologicamente idênticos, uma versão sua que viesse de outra realidade ainda teria duas dimensões de personalidade diferentes da sua: a social e a psicológica.

A série nos dá várias deixas claras que nos permite acreditar até mesmo que não estamos acompanhando os mesmos Rick e Morty do primeiro episódio.

DESCONTEXTUALIZANDO A CULTURA HUMANA.

Por outro lado, o contato com outras criaturas coloca em cheque os valores da nossa sociedade, contextualizando atém mesmo o sadismo de Rick que as vezes se torna aceitável de acordo com o cenário da aventura pela qual os protagonistas estão passando. Isso fica claro nas reações de Morty, que sempre carrega consigo os valores da cultura humana que são o tempo todo colocados em cheque pelo caótico universo que a série apresenta, nos lembrando até mesmo em certos pontos a filosofia existencialista.

Não só o ego ou a personalidade são subvertidos nessa história, mas também conceitos como família, o valor da vida e até mesmo a relevância do ser humano diante do universo. A série têm em sua narrativa traços de ironia filosófica característica de Douglas Adams e nos lembra em muitos pontos seu clássico O Guia do Mochileiro das Galáxias.

Imperdível para os fãs de ficção científica, Rick e Morty provam que é possível fazer humor e filosofia ao mesmo tempo, e de bônus ainda abordar conceitos de psicologia, tudo isso sem se levar a sério demais.

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