Conto: Illuminatus


Pra quem não sabe eu também me arrisco no ramo da literatura. Este conto inspirou o meu romance "O Touro de Bronze". Leia na integra abaixo:

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"Illuminatus, um conto"
Por Tiago Cabral.
Era madrugada quando em um bar num porão de Nova York o illuminatus tomou um gole do seu copo de whisky ostentando seu anel da maçonaria. Evil Ways do Santana começou a tocar numa jukebox ao fundo. O outro homem, seu interlocutor, tinha a mão esquerda sobre a mesa e segurava na direita uma pistola 9mm debaixo da mesa enquanto os tambores da bateria ressoavam nas caixas de som envelhecidas.
— Quanto menos sabemos, mais felizes somos. É a conclusão à qual cheguei. — Disse o illuminatus.
— Fico surpreso que alguém na sua posição diga que a “ignorância é uma benção”. — Disse o outro homem.
— O que eu digo é somente sobre as coisas que vivi, não falo de conhecimento... Eu dormiria bem mais tranquilo se acreditasse um pouco mais na humanidade.
— Eu nunca achei que ia ouvir palavras de remorso da boca de um illuminati.
— “Illuminatus”.
— Como?
— Illuminati é plural. Significa: “Aqueles que são iluminados”. Eu sou um cara só, logo não sou “illuminati”, sou “illuminatus”.
— Então você confessa que faz parte de toda essa coisa?
— Não, essa história de “illuminati” é um grande circo. Vocês que inventaram isso.
— Nós quem? “O gado”? — Disse o outro homem apontando a pistola que escondia debaixo da mesa para o seu interlocutor, por instantes ele pensou em disparar.
O illuminatus riu e fazendo um sinal para o garçom ordenando que fosse trazida mais uma dose de whisky.
— É, me parece uma palavra apropriada.
— Se você tem algum remorso não deve conseguir dormir à noite sabendo que contribui para milhares de mortes todos os dias, não?
— Eu vejo de um outro ângulo: homens como você criam gente como eu. Isso é que me incomoda.
— O que quer dizer com isso?
— Que se não fosse por nós vocês já teriam se matado há muito tempo.
— Então vocês se consideram mesmo superiores ao resto da população.
— Não veja isso pelo lado pejorativo. Beethoven era um artista superior a qualquer outro, mesmo assim ninguém nunca o acusou de conspirar contra as pessoas sem talento. — Disse o Illuminatus tomando mais um gole do seu copo.
— E qual é o “talento” dos illuminati?
— Bom… Primeiro você teria que definir pra mim claramente o que é isso de ser “illuminatus”.
— Eu achei que você é quem iria me responder isso. Afinal você é quem faz parte dessa “ordem”.
— Ordem? — Disse o illuminatus e riu novamente. — Você pensa que é um clube? Que temos um anel ou uma carteirinha, que fazemos atas sobre a dominação do mundo e adoramos baphometh aos domingos? Por que se for isso que você pensa de nós, eu me recuso a acreditar que conseguiu chegar a mim.
— Se não é uma ordem, então o que é?
— Não “é” nada. Nós nem mesmo temos um nome. Mal conhecemos uns aos outros, por isso é até difícil chamar de conspiração o que fazemos.
— Então o que vocês fazem além de matar gente inocente e acumular poder sem escrúpulos?
— O mundo sem nós seria como um corpo sem cabeça.
— Realmente vocês se acham os donos do planeta, isso é nojento.
— Sua visão é que é limitada. Você diz que nós vemos o resto do mundo como gado, mas já parou pra pensar que o gado e o homem possui uma relação simbiótica?
— Sim, o gado morre e o homem come.
— Sem o homem a população bovina não seria nem mesmo uma fração do que é hoje. Graças ao homem o gado procria mais e quem sabe até vive mais. Nem todo mundo nasceu pra ser um Rockefeller, ou um Rothschild. Se não fosse a civilização que criamos, muitos de vocês nem existiriam. E nós nem mesmo tiramos lucro da morte de vocês, apenas do seu trabalho. Acha que vivêssemos numa sociedade com chances iguais todos se destacariam? Não. Porque as pessoas não são iguais. Nunca seremos. — Disse o illuminatus tomando o conteúdo do seu copo tão rápido que por um instante o outro homem achou que isso fosse algum sinal de nervosismo, e relaxou recostando na cadeira.
Após mais um gesto, outro copo foi servido.
— Vocês não têm nada de diferente. Isso é apenas uma desculpa pra justificar o fato de viverem em castelos enquanto pessoas passam fome.
— Na verdade nós temos um segredo. Algo que ninguém nunca contou, não foi passado por um mestre nem estava escrito num livro secreto…
— Eu posso imaginar que tipo de segredo é esse.
— Claro que pode, qualquer um pode. Ele está dentro da sua mente e é terrivelmente belo. Vocês nos chamam de Illuminati, bom talvez nós sejamos tão monstruosos assim para vocês porque realmente somos “iluminados” por esse segredo.
— Conte-me agora! — Ordenou o outro homem.
— Essa é a diferença entre nós e o gado. Todos nascem com a resposta, mas só alguns conseguem encontrá-la. — Disse o Illuminatus fazendo novamente um sinal para que o garçom trouxesse mais um copo de Whisky.
— Então como se descobre que se é um illuminati?
— É engraçado. Eu sempre vejo pessoas no limiar da descoberta. Geralmente são pessoas como você que rodeiam o segredo, e passam a vida a centímetros dele, mas nunca poderão tocá-lo. Dá pena.
— Eu acho que você deveria é ter um pouco mais de pena de si mesmo nesse momento.
— Vou ser obrigado a discordar de você — Disse o illuminatus.
— Eu não acredito que um homem como você tenha aceitado se encontrar comigo pra ter esse tipo de conversa. Não teme pela sua vida?
— E você não teme pela sua?
— Por que pergunta isso? Se você é tão poderoso quanto eu penso que é, se fosse de sua vontade que eu estivesse morto eu já tinha desaparecido desse mundo sem deixar vestígios.
— Exatamente, então porque acredita que eu te dei essa oportunidade?
— Talvez curiosidade.
— Exatamente. Eu gosto de observar esse tipo de fenômeno.
— Fenômeno?
— Sim, como eu te disse muitas pessoas chegam perto da verdade, às vezes vivem a centímetros dela e nunca conseguirão enxergá-la. Eu tenho pena dessas pessoas, mas também fico curioso.
— O que garante que eu não estou aqui pra te matar e acabar com seus planos malignos?
— “Planos malignos”… Você me faz parecer um vilão de filme de criança. Além do mais a minha morte não iria alterar em nada o curso da história. Outro assumiria o meu lugar e você seguiria vivendo como um dos milhares de loucos que acreditam em teoria da conspiração.
— Será mesmo? E se eu estivesse disposto a testar essa hipótese? E se eu te matasse aqui agora?
— Vocês são mesmo muito ridículos. Acha mesmo que eu tenho algum medo de qualquer ameaça que possam me fazer?
— Esse talvez seja o ponto fraco de vocês illuminati. O poder te torna arrogante. Eu confiei nisso quando marquei esse encontro.
— Eu aceitei vir aqui justamente pra provar pra vocês o tamanho da nossa arrogância. E pra terem certeza de que nós estamos certos.
— Você vai se arrepender disso.
O illuminatus riu.
— Você está carregando uma pistola. Eu imagino que deve estar segurando ela debaixo da mesa nesse instante. Eu sei também que marcou o encontro num lugar público porque tinha medo do que pudesse acontecer contigo. Mas vocês são o gado e como gado são incapazes de pensar além da cerca do pasto que criamos pra vocês. Meu poder não tem limites.
O outro homem então esboçou uma reação, porém o illuminatus virou a mesa por cima dele, derrubando-o no chão. Com um chute a pistola foi deslizada para longe.
— Eu estou aqui pra para provar uma coisa — Disse o illuminatus enquanto dava pontapés nas costelas do outro homem. As pessoas se assustaram e começaram a se levantar, porém ele retirou uma carteira de identificação do FBI do bolso interno do paletó e a ergueu no alto exibindo-a para todos no recinto — FBI, fiquem todos nos seus lugares. Esse homem é um criminoso, por favor, mantenham a calma. Preciso interrogá-lo.
O outro homem tentou se erguer, ficou de quatro mais teve sua cabeça chutada pelo illuminatus que se abaixou e cochichou:
— Eu tinha esperança, sabe. Esperança que ao se encontrar comigo você provasse que eu estivesse errado.
Então começou a estrangular o outro homem.
— Oh, meu deus. Isso é realmente necessário? — Disse uma mulher.
— Senhora, por favor. Fique no seu lugar. — Ordenou o illuminatus.
— Eu tive vontade de estar errado. Pelo menos dessa vez, mas eu sei que não estou. Por que acreditar nisso seria ter esperança, e eu não sou tolo o suficiente pra isso.
— Você… — começou o outro homem, mas tossiu sangue. — Você pode ter ganhado essa, mas uma hora as pessoas vão se cansar. Elas vão se revoltar e vir diante de você assim como eu fiz. Essa mentira que vocês criaram não vai durar para sempre. E quando essa hora chegar serão milhões contra você. Não apenas um.
— Vamos por isso a prova. — Disse o Illuminatus abrindo a braguilha da calça e começando a urinar no outro homem.
— Pelo amor de Deus, alguém chame uma polícia! — Disse um senhor se erguendo. O illuminatus se aproximou dele.
— Desculpe, senhor. Eu sou um agente da lei, preciso obter uma informação desse suspeito. Se o senhor se sentir ofendido o estado irá indenizá-los isso vale para todos vocês.
— O que você está fazendo? — Perguntou o outro homem. O illuminatus se aproximou.
— Se qualquer um vier aqui me impedir de te matar, eu irei revelar a todos a verdade. E todo mundo sai vivo daqui e eu vou acreditar que você está certo. Que as pessoas não precisam de gente como eu andando por aí. Mas caso contrário, não só você, como todo mundo aqui vai morrer.
O illuminatus deu mais socos na cabeça do outro homem. O silêncio só era interrompido pelo som dos golpes.
— Isso, isso é simplesmente absurdo! Eu me recuso a… — Começou o senhor que tinha falado antes.
O illuminatus se aproximou dele:
— O senhor quer ser preso?
Não houve resposta. O illuminatus então se abaixou para falar com o outro homem:
— Viu? Vocês precisam de nós, a qualquer custo. Vocês me fizeram.
E colocando a mão no pescoço do outro homem, o illuminatus o estrangulou até que ele parasse de se mexer e molhasse as calças.
— Está certo, agora chamam uma ambulância para o homem. Pelo amor de Deus! — Alguém disse.
O illuminatus fez um sinal para o garçom que se aproximou com rapidez.
— Está feito. Matem todos.

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