Por que será que o Brasileiro engole tanto sapo e não faz nada?
IMAGEM: Cléo Pires engole sapo em ensaio feito para seu site pessoal.
O brasileiro engole vários sapos por dia. A deglutição de batráquios é tão comum no país que talvez o anfíbio se torne mais popular do que o feijão na culinária tupiniquim. É só pagar um boleto, tentar acessar algum direito ou até mesmo ligar a TV durante o noticiário que lá estão eles, servidos em badejas de prata, prontos a serem engolidos pela nação.
Mas por que o brasileiro se sujeita a isso?
Eu tenho uma tese de que chegou uma hora em que o sujeito brasileiro se cansou. Numa chuva torrencial de sapos fica inevitável não engolir alguns. Vou dar um exemplo pessoal:
Recentemente tive débitos indevidos no meu cartão de crédito de um banco que se gaba de ser digital e "resolver todos os problemas pela internet". Pra começo de conversa o aplicativo "super eficiente e online" deles manda você ligar pro SAC se tiver algum problema. Nada de chat, nada de e-mail.
Já de posse do telefone e da minha paciência, ouvi todas as opções oferecidos pelo maldito robô de autoatendimento. Acabei ingressando numa aleatória e por sorte fui atendido.
Depois de 40min de ligação, o representante do banco ainda me diz que eu preciso preencher um formulário que será enviado por e-mail, o qual eu devo preencher a mão, assinar, digitalizar e enviar por e-mail de volta.
Quantas vezes eu pensei em deixar isso pra lá nesse processo? Várias!
Então a coisa fica ainda mais grave quando a gente fala de políticas públicas, e aí eu uso da minha autoridade profissional para explanar meu argumento porque trabalho com elas. Toda vez que alguém tenta exigir seu direito passa por uma burocracia tão grande que o sujeito pode pensar: "é melhor deixar pra lá".
E muitas vezes, o brasileiro só procura ajuda quando não tem mais como suportar a situação. E ainda assim é exigido dele uma série de protocolos, formulários, carimbos e alvarás que talvez sirvam é pra isso mesmo: fazer o cara deixar pra lá.
E aí mais um sapinho é deglutido.
É por isso que se engole o Temer, se engole o Aécio de volta ao senado e a mídia internacional fica sem entender a apatia desse povo.
Pra que enfrentar o patrão se você sabe que é complicado? Acionar o sindicato que muitas vezes pode estar vendido é chato e a coisa toda vira um processo que no fim das contas você sabe que nunca mais vai trabalhar na área, e isso a troco de uma mixaria que nem sabe se vai receber? A gente engole mais um sapo e continua empregado. Melhor, né?
E aí ninguém entender porque é tão difícil organizar greve nesse país.
Eu? Vou enfrentar a fila do SUS pra fazer exame? Por que tem que dormir na fila, passar pelo clínico no posto de saúde, pegar encaminhamento, esperar a vaga do especialista e aí só depois pegar a fila do exame. Deixa quieto e engole esse sapo medicinal, se a dor não passar a gente chama o SAMU.
E aí ninguém entende por que as emergências vivem lotadas, ou por que todos os serviços que atendem pessoas vítimas de violação de direitos estão sobrecarregados.
Porque ter acesso ao que é seu por direito é tão difícil que... Né?
... Na hora que der "ruim" a gente vê o que faz.
É por isso que nenhum cientista político gringo jamais vai entender a apatia do brasileiro sem pegar uma fila ou preencher três vias de um formulário que o próprio funcionário que o requisitou mal sabe por que existe.
A primeira revolução pela qual o país precisa passar é cultural. E não estamos aqui colocando a culpa no povo que mal tem conhecimento de seus direitos (ou seja, a grande maioria da população), mas sim das pessoas que, como eu, têm o mínimo de base pra reinvindicá-los. Podemos não ser a maioria, mas não somos poucos!
A situação é ruim até para os poucos privilegiados que, por sorte, não precisam do estado e não estão na mão de alguma empresa. Pois, um povo fragilizado compra mal, vota mal, trabalha mal e puxa a economia e a sociedade brasileira como um todo para baixo.
A ignorância coletiva só sustenta uns poucos amigos que nunca vão sair de onde estão, apesar de venderem a meritocrática ilusão de que "você tem a chance de ocupar o lugar deles no futuro".
A ignorância coletiva só sustenta uns poucos amigos que nunca vão sair de onde estão, apesar de venderem a meritocrática ilusão de que "você tem a chance de ocupar o lugar deles no futuro".
Mas enquanto isso os sapos continuam chovendo em proporções bíblicas, e minha esperança é que uma hora o brasileiro vai ter que vomitar...
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