O problema de misturar fé e política

Fotografia de uma bíblia.
RESUMO: Nesse texto vamos discutir até que ponto é saudável misturarmos um sentimento tão poderoso como a fé com algo que muitas vezes pode ser mesquinho como a política usando a minha experiência e referências éticas da psicologia.

Apesar de ser de uma família cristã eu não me considero uma pessoa religiosa. Não tenho problemas de frequentar cultos ou missas em eventos festivos e respondo "amém" quando alguém me abençoa. Não custa nada. Afinal de contas eu penso que certas expressões como "nossa senhora" pontuando uma frase exclamatória, ou mesmo um "Jesus!" no momento de desespero são dizeres que são culturais num país predominantemente cristão, mesmo que você não o seja.

Penso que quando alguém te abençoa, ou diz que vai orar por você devemos pensar que esse é um gesto de carinho feito por alguém que deseja o seu bem. Apenas isso. E já que não me afeta ou me ofende, e isso é uma opinião pessoal, não custa responder.

No entanto me preocupa uma aparente necessidade de certos grupos religiosos "autenticarem" sua fé através de práticas profissionais. Principalmente a psicologia, e eu já disse nesse vídeo que isso é em parte culpa dos próprios psicólogos.

Mas o problema é que muitas vezes esses grupos religiosos não querem apenas autenticar suas práticas através de categorias profissionais. Eles também querem fazer isso através da lei. Eu sou declaradamente contra esse tipo de prática onde religiosos legislam para todo o povo - inclusive para os não religiosos - por vários motivos.

O primeiro deles é que fé e religião são coisas diferentes.

Fé é sobre um sentimento, é sobre emoção. A fé é algo pessoal e indivisível, uma experiência que é vivida de forma única por uma pessoa religiosa. Ameaçar a fé de alguém é a mesma coisa que ofender a própria pessoa, negar Deus a um religioso é negar sua autoimagem, sua visão de mundo e toda a sua história pessoal. Por isso eu digo que entendo quando muitas pessoas religiosas se sentem ofendidas diante de certas afirmações ou práticas.

No entanto, para mim, a religião é uma instituição como qualquer outra, assim como uma escola, um partido político ou um hospital, ou seja, um grupo de pessoas que funciona com objetivo definido. A fé é um exercício pessoal, uma experiência íntima. Mas uma religião é uma instituição, um grupo.

O segundo ponto é que, por estar próximo de pessoas religiosas eu entendo que muitas vezes a militância política dos cristãos pode se confundir com a dominação política e pode até mesmo ir contra os princípios da religião!

Eu não penso que tive uma experiência religiosa que me dê autoridade para falar de religião. No entanto me esforço para entender as pessoas que passam por ela. Penso, e assim me foi ensinado, que religião deveria ser uma forma de pregar o amor, a aceitação. Eu vejo isso nos religiosos que conheço: uma vontade de exercer sua fé ao ajudar o próximo. E muitas vezes não é isso que os políticos ou grupos religiosos que tentam dominar o cenário político pregam.

Muitos discursos de pessoas alegadamente cristãs compartilham o ódio e a não aceitação de pessoas que são diferentes daquele formato preestabelecido por seus líderes. Essas pessoas deliberadamente manipulam seus seguidores utilizando de forma maliciosa sua fé para que sejam apoiados discursos que que podem até ser contra a filosofia pregada pela própria religião que exercem.

É por isso que, seja você religioso ou não, é preciso desconfiar de pessoas ou grupos que tentam se aproximar do poder político querendo limitar ou até mesmo extinguir o direito de outros grupos, sejam eles religiosos ou não. Até porque nesses diálogos com as pessoas religiosas que fazem parte da minha família eu ouvi uma frase muito sábia:

"Deus não precisa de apoio de nenhum profissional ou lei para agir na vida das pessoas"

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