Intervenção na favela dos outros é refresco


A crise no estado do Rio de Janeiro é alarmante, e o fato é que alguma coisa precisava ser feita. Mas não é por isso que a intervenção militar, digo, "intervenção federal" feita pelo governo na última semana seja um "doce remédio".

Pra começo de conversa, não existe solução simples ou de curto prazo.

A resposta adequada para a crise do Rio de Janeiro é investimento nas políticas públicas, tanto de segurança, quanto saúde, educação, assistência social e o que mais for direito. Desarmar o crime organizado que comanda as favelas é minar o seu poder sócio-econômico e isso só se faz com políticas públicas. 

No entanto, um estado falido não será capaz de criar políticas públicas em verdadeiras zonas de guerra do dia para a noite, isso quando a própria segurança pública, que seria um fator emergencial nesse caso, encontra-se sucateada e seus agentes mal remunerados e com salários atrasados.

E quem perde é o cidadão.

O remédio é amargo e vai sobrar pra todo mundo. Os militares assumem uma responsabilidade que não é deles, e muito ainda vai ser discutido sobre as possibilidades das ações que eles deverão ou poderão executar. 

Quem guarda os guardiões? Quem arbitra sobre as ações dos militares e investiga possíveis crimes cometidos por eles durante essas ações? Lembrando que ações conjuntas feitas com exército em favelas do Rio, alegadamente, ainda não apresentaram resultados ou números claros até hoje.

Os policiais honestos, quando já mal remunerados, estarão subalternizados a um órgão estranho a sua prática, já foi discutido ainda sobre isso reduzir ainda mais a moral da corporação, que já não está lá muito alta.

Os ditos bandidos, talvez fujam de suas cavernas para as cidades do interior do estado causando transtornos em lugares antes pacíficos ou pouco violentos.

E ainda há o fato de que, a suposta "moral e eficiência" atribuída ao exército venha a se corromper pelo famoso "canto da sereia", que com eficiência já vem corrompendo as forças de segurança e já foi praticamente institucionalizado na política.

As chances da coisa piorar são altas, isso é, caso a intervenção se limite apenas a interferência militar na segurança. O que o Rio precisa, a longo prazo, é de políticas públicas e restruturação econômica e social.

Vai morrer muita gente e isto é fato, aliás, já circulam nas redes sociais diversas fotos alegadamente de "bandidos" mortos por aí. Podemos até ser moralistas e dizer que, de fato, a pessoa que atua no mundo do crime assume os riscos de tal "carreira", independente dos motivos pelos quais sua história levou este a caminho.

Mas vai morrer também muito policial "corrupto", mas vão morrer também policiais honestos, vai sobrar bala perdida, vão sobrar famílias com entes queridos mortos, inocentes ou não - o sofrimento muitas vezes é o mesmo, todos vítimas da "guerra ao tráfico". Afinal de contas, toda vez que uma bala é disparada, seja de que lado for, o alvo vai ser sempre a sociedade.

Não estamos aqui pregando um pacifismo utópico ou então a defesa de "marginais" armados até os dentes, muitas vezes com equipamento bélico militar que matam agentes de segurança pública, e até mesmo trabalhadores inocentes.

Mas é evidente que quando paramos pra ponderar dois segundos, ninguém iria querer um conflito dessa escola na própria vizinhança, mesmo aqueles que são apoiadores da política do "bandido bom é bandido morto", pois a maioria de nós, independente de alinhamento político, contra ou a favor da intervenção militar, quer dar opinião sobre o evento, mas nunca gostaria de fazer parte dele. Afinal de contas, intervenção na favela dos outros é refresco.

E ainda há aqueles que vão lembrar dos cidadãos que são reféns do tráfico e anseiam pela liberdade a qualquer custo, mas é certo que se houvesse a opção de combater esta violência sem que houvesse ainda mais violência, certamente eles iriam considerar a possibilidade.

Mas talvez tenhamos chegado ao ponto que isso não seja mais possível.

O estado do Rio de Janeiro parece ter sido pilhado pela trupe do pior tipo de bandido que existe: o político, que desmontou as políticas públicas, sucateou as polícias e abriu espaço para o germinamento da situação que vemos hoje.

E talvez tenha sido criado no estado uma situação sem volta, onde por mais que nunca seja possível bater palmas pela ação tomada pelo Governo Federal, talvez ela seja necessária. Acredito que, talvez, somente a história vai poder dizer a eficácia e a real necessidade dessa medida drástica.

Para saber mais (Bibliografia):

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