O perverso mito do vagabundo.


Imagem: George Stinney, garoto negro de 14 anos condenado a morte pelo assassinato de duas garotas brancas. 70 anos após sua execução o julgamento foi considerado inválido.

Esse texto foi originalmente publicado no meu twitter na forma de uma Thread. Me segue lá!

O povo negro foi taxado como vagabundo desde que deixou de ser escravizado. Não é atoa que um dos atributos negativos que a cultura do #blackface atribuía em seus espetáculos perversos era de que os negros seriam preguiçosos e desengonçados.

Imagem: Reprodução de um poster de um minstrel show em 1900, de William H. West

Existe uma técnica de limpeza social velada que é usada com êxito até hoje: a criminalização de certos comportamentos. Nos EUA e em outros lugares é discutido se o uso e a venda de certos entorpecentes foi atribuída a grupos étnicos como forma de reprimi-los.

Imagem: Charge publicada no Vidette Messenger  um jornal publicado em Indianna em 19 de Julho de 1940 que mostra um mexicano como o arquétipo de fumante de maconha. O jornal ainda dá a entender que a maconha é uma propaganda nazista.

No Brasil ainda existe uma lei em desuso que pune a vadiagem com até 15 dias de cadeia, que na prática permite prender alguém simplesmente por estar sem trabalho ou sem documentos! ( art. 59 do Decreto n.º 3.688/41). Esta lei era muito aplicada na época da ditadura militar.

Imagem: Recorte do jornal O Globo da época da ditadura.

Por isso acabou sendo criado no inconsciente das pessoas essa história de que o “bandido” é uma pessoa que não gosta de trabalhar e quer adquirir bens sem esforço. Logo ele é preguiçoso, por isso é bem comum ouvirmos o termo “vagabundo” quando se referem a criminosos.

Imagem: Martin Luther King sendo preso.

Então é curioso observar que as mesmas características atribuídas aos negros são difundidas como características dos ditos criminosos talvez fomentando uma paranoia contra negros e gente pobre em geral.

Imagem: Reprodução de uma ilustração da época guerra civil retratando negros como preguiçosos.

Esta também é uma forma de culpabilizar o pobre pela sua própria miséria e tirar um peso da consciência da sociedade atribuindo um “desvio de caráter” ao fora da lei. Isso também tira a obrigação dos governantes de fazer algo sobre o assunto.


E portanto, se o #vagabundo está nessa situação por conta própria, porque é preguiçoso e tem um desvio de caráter, ele se torna “incorrigível”, portanto fica autorizado o seu extermínio!

Essa é a lógica maligna por trás da sociedade brasileira na atualidade, a lógica por trás da meritocracia, do racismo, da eficaz guerra às drogas que na verdade é a guerra ao pobre e ao povo negro.

Imagem: Pessoas sendo presas na época da ditadura no Brasil.

Afinal para a psicologia somos também produto da sociedade e da cultura onde estamos inseridos, mas sim, certamente existem pessoas para as quais a única solução seja o afastamento da sociedade. Mas quem está avaliando isso? O homem que puxa o gatilho?

Imagem: Montagem representado o personagem "Seu Madruga" do seriado Chaves, que apesar de ser o que mais é retratado trabalhando é o único que tem fama de vagabundo.

Portanto o mito do vagabundo pode ser interpretado como uma ferramenta de criminalização da pobreza e da negritude tendo em vista o contexto histórico que o precede. A reavaliação dos valores morais atribuídos ao pobre e ao negro pode ser um viés de desarticulação dessa falácia.

BIBLIOGRAFIA:

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