Tirando grilhões da mente - uma resenha de Rastros de Resistência de Ale Santos


A representatividade tem sido um tema muito importante no que tange a autoestima e porque não a saúde mental do povo negro no Brasil que ainda sofre as consequências da mais perversa forma de escravidão registrada na humanidade: a escravidão racista que desumaniza o escravizado tornando-o equiparável a um animal.

Além da violência física o povo negro também passou por uma violência cultural com a demonização de suas religiões, a marginalização de sua cultura e sobretudo, o apagamento do protagonismo na sua própria história, uma violência que nós, descendentes, ainda sofremos até hoje.

O autoconhecimento têm sido um dos principais trunfos oferecidos pelas mais diversas formas de terapia desde a criação da psicologia que enfatiza os benefícios de se saber quem é, quais seus limites, desejos, pontos fracos e fortes. E se conhecer passa por conhecer suas origens e seu lugar na sociedade. Mas como buscar autoconhecimento numa sociedade que procura esconder a verdade sobre a nossa cultura e origem?

UMA HISTÓRIA QUE NOS FOI NEGADA:

Esse é um dos pontos questionados pelo escritor e pesquisador Ale Santos, que ficou nacionalmente conhecido por seus textos publicados no Twitter onde o mesmo divulga as injustiças do racismo na história do Brasil, e mais importante, exalta a história de heróis e heroínas negros que deveriam estar nos livros escolares, mas que foram deliberadamente "esquecidos" pela cultura nacional.

UM ATO DE RESISTÊNCIA LITERÁRIA!

O livro aborda assuntos polêmicos, como fatos ocultos em grandes momentos da história do Brasil, como detalhes pouco discutidos da revolução farroupilha ou até mesmo o protagonismo do povo negro na sua própria busca por liberdade.

Mas também aborda temas como a ignorada história da eugenia no Brasil, uma obscena forma de pseudociência que tinha por objetivo justificar a subjugação de sujeitos negros na sociedade e promover o embranquecimento da população do país, pensamento este que já fez parte inclusive da constituição brasileira no passado e nos alerta para o um racismo sistêmico que tem raiz histórica.

UM LIVRO PARA SE TER NAS PRATELEIRAS DAS ESCOLAS:

Com um texto extremamente didático Rastros de Resistência consegue ser uma leitura prazerosa e ao mesmo tempo informativa. O texto é objetivo, com uma linguagem acessível e cheio de conteúdo, ainda trazendo transposição para outras mídias através QR Codes para estender a experiência da leitura a vídeos, documentários e outros materiais, além de trazer uma vasta bibliografia para quem se interessar em mergulhar ainda mais num assunto tão belo.


A arte do livro conta com ilustrações incríveis tanto da época em que se passam as histórias quanto de artistas que criaram gravuras exclusivas para o livro, que ainda conta com um belo trabalho de diagramação que torna a leitura ainda mais fluida.

O livro deixa claro a necessidade de mais obras acessíveis como esta nas livrarias, que exaltem a história e bravura do povo negro nos ajudando assim a conhecer um pouco mais de nós mesmos e faz o leitor aguardar uma óbvia continuação que traga ainda mais histórias de heróis e heroínas negros!

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