"Boas festas" o que um hit de natal tem a ver com a saúde mental do povo negro?

 

Fotografia em preto e branco: Compositor Assis Valente ao lado da cantora Carmem Miranda

Já faz tempo que eu pedi mas o meu papai Noel não vem. Com certeza já morreu ou então felicidade é brinquedo que não tem...

Quem nunca ouviu essa música nas festas? Vou contar a história dela que cheia de significado e emoção e um alerta sobre saúde mental negra. Esse texto veio de uma discussão iniciada no meu perfil no Twitter. Se você quiser acompanhar o que foi falado em tempo real é só seguir a gente por lá:

 O nome da música é Boas Festas. Ela foi composta por um homem negro chamado Assis Valente. Ele chegou a compor músicas para verdadeiros mitos da cultura brasileira como Carmem Miranda, por exemplo. Também compôs até festas juninas como Cai Cai Balão! Mas o que isso tem demais?

Primeiramente, ouvindo essa música nesse ano tão sinistro de 2020, em meio a pandemia de COVID19 e tanto caos eu finalmente me dei conta de que Boas Festas não é uma música sobre celebração e alegria, mas sim sobre desigualdade social!

Interpreto que "Boas Festas" traz a história de uma criança que provavelmente pobre e que nem sabe o que é felicidade, e pede pra que papai Noel traga pra ela. Mas este papai Noel nunca veio. E isso é triste demais!

A versão mais popular dessa música é interpretada pela cantora Simone:

 

Infelizmente Boas Festas rima com a própria vida de Assis Valente, que não teve uma infância muito fácil. Alegava ter sido "roubado" dos pais indo morar com uma família para a qual realizava trabalhos domésticos. 

Frequentemente escravidão moderna do corpo negro se faz através da adoção ilegal onde famílias brancas pregavam "uma pretinha pra criar", que na verdade era uma empregada doméstica. Acho que todos ouviram falar desse caso recente de uma mulher que foi libertada após 38 anos de um sistema bem parecido com o que foi descrito:

Captura de tela do site G1 onde se lê a manchete "Mulher é libertada em MG após 38 anos vivendo em condições análogas à escravidão".


 O que dói mais é saber que esse gênio da música popular brasileira, assim como outros artistas negros morreu na pobreza e no sofrimento. Atolado de dívidas, deu vários sinais de que sua depressão o estava vencendo. Chegou a acionar amigos e funcionários. Não foi o suficiente.

Quantos gênios negros são privados de expor sua arte ao mundo por conta do racismo? E dos que chegam ao estrelato, quantos não têm sua vida ceifada em curto prazo pela negligência da sociedade?

O povo negro adoece mais, do corpo e da mente. E nem os gênios e os famosos são poupados. Precisamos lutar para que as políticas públicas de saúde entendam que o racismo também nos afeta durante o acesso do direito a saúde!

BIBLIOGRAFIA:

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