Águas de março (de 2021)
Foto de enchente carregando carros. (créditos: UOL Notícias) |
Já dizia Tom Jobim que as águas de março fechavam o verão e que traziam uma promessa de vida para os corações. Bem... Em março de 2021 essa não parece ser bem a história.
Em 2021 as águas de março nos afogam,
seja pela COVID, pelas enchentes pelas endemias de dengue e outras doenças, sejam pelas mazelas psicológicas trazidas pelas mortes a nossa volta, pelo aperto no peito de não poder nem mesmo dizer um "adeus".
E nessas águas de março, que não vêm verde-claro como as cristalinas águas das praias tão cantadas por Jobim, mas sim barrentas e cheias de escombros, nessas águas de março que também são águas de morte, alguns andam de jet-ski, de barco e festejam, sendo eles os poderosos e os enganados que os seguem.
Eles, que se beijam e abraçam baforando morte, que se embriagam com o sangue daqueles que não têm a opção de ficar em casa. Aqueles que negam a vacina enquanto furam filas para conquistá-la.
As águas de março de 2021 estão cheias de esgoto, de morte, e dos corpos daqueles que foram assassinados pela perversidade de um governo necrófago.
E ainda vem a constatação de um fato há muito sabido no Brasil: que em terras tupiniquins tudo chega mais tarde. É assim com as coisas boas, como cinema, tecnologia, saúde... Mas o que há de ruim chega primeiro e faz residência.
Quantos corpos dentre a maioria de pobres e pretos estamos dispostos a pagar para que nossos senhores coloniais se sintam satisfeitos e decidam distribuir a esperança importada? 250 mil, aparentemente, não é o suficiente.
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