Crônica: A culpa é minha e eu boto em quem eu quiser

 

Montagem com Bolsonaro ao lado de Homer Simpson.

Neste texto vamos usar um pouco de psicologia social com viés comportamental pra fazer uma crítica descontraída a nova estratégia narrativa do Governo Bolsonaro que é culpar o próprio povo pela pandemia.

Primeiro precisamos entender que não é de hoje que o governo usa essa estratégia. Desde 2018, sempre que algo dá errado vemos o presidente falar que "ele não consegue fazer o que quer" (imagine se conseguisse?) e por isso as coisas dão erradas.

Sempre acusando prefeitos e governadores de agir contra o governo na pandemia, terceirizar a culpa nunca foi novidade.

O problema é que a narrativa agora se tornou ainda mais ousada: culpar o próprio povo. Devemos lembrar que o Jair já disse por aí:

Eu acho que não, não vamos chegar a esse ponto [tantos casos quanto os Estados Unidos], até porque o brasileiro tem que ser estudado. O cara não pega nada. Eu vi um cara ali pulando no esgoto, sai, mergulha... Tá certo?! E não acontece nada com ele...[1]

O fato é que essa falácia do pobre forte, do pobre que "está acostumado com o sofrimento" é uma falácia potencialmente racista, isso é, se a gente se atentar que a grande maioria dos pobres são negros[2]. Aliás, essa era uma fala muito comum pra justificar a escravidão do negro. Um mito tão forte e perverso que explica inclusive a maior incidência de violência obstétrica contra mulheres negras[3] do que contra mulheres brancas.

E agora que já não se pode mais negar pandemia, nos dizem que a culpa é do povo.

Já ouvimos isso nas ruas, essa fala pronta e embalada pra presente pelos defensores do governo de que o problema não é do governo, mas sim da falta de educação do povo Brasileiro que "não respeita nada".

Ora, mas não é o estado que é um interventor capaz de mediar esses comportamentos coletivos? O Brasil já teve um dos maiores sistemas de vacinação do mundo, que agora entre em descrédito devido a própria contra-campanha do governo e de seus aliados que visam incutir medo nas pessoas de algo que já deveria ser ponto firmado há muitos anos.

Aliás, o comportamento disfuncional do povo em relação a pandemia tem exemplo no próprio Jair.

Quer coisa mais marcante que o líder do país se recusar a usar máscara ou alegar a plenos pulmões que não vai tomar vacina? Nem que seja como um comportamento imitativo, uma pessoa com a exposição de Bolsonaro tem influência no comportamento das pessoas.

E agora vemos novamente uma possível tentativa de soar o apito a seus cachorros (dog whisle[4]) supremacistas que acreditariam que existe uma "subcategoria" do povo brasileiro que é ignorante, e por "nascença" tem baixa capacidade de entender o que é viver em sociedade. E por isso é que o vírus prospera no Brasil: porque o povo não respeita nada.

De fato, o governo parece procurar inimigos para combater, pois somente a necessidade de uma defesa pela força sustenta um líder violento no poder. E este que temos atira para todos os lados. Porém, na minha visão talvez o que tenhamos no Brasil seja um Homer Simpson fascista no poder, que diz a cada pronunciamento "a culpa é minha e eu coloco em quem eu quiser".

BIBLIOGRAFIA:

  1. UOL. "Bolsonaro: Brasileiro tem que ser estudado. Pula no esgoto e nada acontece".
  2. UOL. "Negros são 75% entre os mais pobres; brancos, 70% entre os mais ricos".
  3. Associação Brasileira de Saúde Coletiva. "Mulheres negras sofrem mais violência obstétrica".
  4. Wikipédia. "Apito de Cachorro".

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