O poder da escuta

Descrição da imagem: pessoa com máscara no rosto.

Geralmente as primeiras sessões de psicoterapia têm um padrão de encerramento. O comportamento verbal que era o de uma fala agitada que vinha da angústia da lugar a um tom brando, arrastado, como se uma grande quantidade de energia tivesse sido gasta pelo organismo. E não é com pouca frequência que eu escuto agradecimentos, mesmo que naqueles curtos minutos não tenha dito nenhuma palavra.

Isto é porque muitas vezes as pessoas apenas precisam ser escutadas.

Na sociedade da rotina que transforma sonhos em máquinas frias de produzir lucro, não há espaço para a compaixão. Identificar-se no outro se torna uma tarefa quase impossível quando a estrutura social em que vivemos prega esta crença bizarra de que aquele que está próximo é nosso concorrente.

Com frequência as pessoas não escutam, apenas esperam sua vez de falar.

Isso pode acontecer por conta desta concorrência também da angústia. Existe competitividade até mesmo na hora de se falar do sofrimento. A sociedade diz que temos ganhar sempre, mas também temos mostrar mais esforço. Por isso, no mundo da concorrência acolher a tristeza do outro pode significar considerar que o sofrimento desta pessoa é maior que o nosso. Então acolher o discurso do outro pode ser considerado uma "rendição".

A sociedade nos adoece ao nos isolar.

Se a única relação que podemos ter com o outro é de competição, isso nos impede de ter compaixão. De escutar de verdade, e não de apenas esperar a sua vez de falar. E é por isso que o atendimento psicológico tem esta potência, porque o profissional bem treinado possui essa habilidade de olhar nos olhos do cliente e de fato escutar o que esta pessoa está dizendo e não concorrer pra ver quem tem o sofrimento maior.

Por mais que eu ofereça críticas a psicanálise, esta é uma das poucas práticas psicoterapêuticas que valoriza o silencio do terapeuta. Pois as vezes é necessário um espaço para que o cliente preencha com sua angústia.

Muitos psicólogos em início de carreira parecem ter uma angústia deles próprios de intervir, de propor sugestões e estratégias para extinguir o sofrimento da pessoa.

Porém, muitas vezes o que o cliente precisa é um espaço onde ele seja autorizado a sofrer, a se sentir uma pessoa e não uma máquina infalível. Um lugar onde a escuta é proporcionada em sua plenitude, sem julgamentos, sem competição.

Sobretudo, é triste constatar que na pós-modernidade enxergar o outro como ser humano e acolher seu sofrimento, se tornaria uma técnica a ser dominada apenas por doutores, ou uma vocação dos "santos".