Resenha: Mortal Kombat (2021)

Descrição da imagem: poster exibindo os personagens do filme.

A questão é que talvez seja impossível se fazer um filme bom de Mortal Kombat. Digo isso porque o universo criado por Ed Boom e John Tobias é composto por dezenas de jogos que bebem de uma quantidade muito grande de referências das quais nenhum filme soube aproveitar até hoje.

Começando pelo principio, Mortal Kombat (MK) entrou pra história se tornando uma franquia que faz sucesso até hoje quando chocou a comunidade gamer do início dos anos noventa junto com uma leva de jogos violentos como Doom. Esses games foram tão bem sucedidos que inclusive influenciaram a criação do selo de advertência parental que orienta a idade mínima para que sejam consumidos.

Outro fato marcante que também influenciou a indústria dos games foi o uso de imagens de pessoas reais na composição gráfica do jogo, num processo hoje arcaico onde os atores eram fotografados exaustivamente e depois suas imagens eram tratadas no computador e inseridas no jogo, ressaltando ainda mais a viceralidade da violência do game. 

Mas uma coisa que pouca gente percebe é que, além da violência, boa parte do que compõe a estética da narrativa do jogo é uma série de referências a filmes de ação clássicos dos anos 80 que foram, de certa forma, o início da difusão do consumo de narrativas violentas nas mídias.

A prova cabal disso é que ninguém menos que Jean-Claude Van Damme foi cotado para ser um dos personagens do jogo, mas recusou, sendo então o personagem Jonny Cage inspirado no ator belga. Porém a estética dos games também mudou muito ao longo dos anos, sendo que essa influência dos filmes de ação dos anos 80, e depois dos anos 90 foi abandonada quando os jogos deixaram de ser uma obra 2D para entrar para o mágico mercado dos jogos em 3 dimensões que surgiu com o advento de aparelhos como o PlayStation, Sega Saturn, Nintendo 64 e outros.

A partir de Mortal Kombat 4 a franquia já tinha uma estética mais cartunesca que flertava mais com a fantasia sombria do que para um jogo inspirado em filmes de ação B, e seguiram este rumo até o que vemos hoje em Mortal Kombat X e XI que abandonaram as dezenas de jogos dos anos 90 e 2000 dando início a uma história contada do zero.

Porém, independente das referências, MK não é um filme que se sustente. O roteiro não consegue cumprir nem mesmo com um dos clichês mais batidos do cinema que é a jornada do herói, além de conter personagens no mínimo incongruentes. Além disso, os diálogos principalmente dos vilões são extremamente caricatos e alguns tem uma performance tão ruim que parece que os atores estão lendo suas falas.

Tá certo que ninguém esperava primazia dramática num filme de Mortal Kombat, 

porém nem mesmo as cenas de ação valem a pena. A maioria delas emprega o estilo Marvel de fotografia de combate, que são cenas cheias de cortes que as vezes nem permitem entender o que está acontecendo, porém na Marvel pelo menos a há a grandeza dos efeitos especiais e a presença de tela dos heróis, coisa que não há em MK.

O que resta no filme é a violência que na verdade tem pouquíssimo tempo de tela, e cuja a maior parte das cenas já podia ser vista nos trailers. Mas mesmo assim, se comparado aos games, a ação tem proporcionalmente pouco espaço na narrativa e não sustenta a história que já é fraca.

Aliás, outro ponto fraco do roteiro é tentar contar uma narrativa com muitos personagens querendo dar atenção ao plano de fundo de quase todos eles. 

E se já não sobrassem personagens num universo que já tem quase 30 anos, eles ainda decidiram introduzir um protagonista que não existe no jogo.

Em conclusão, apesar de aparentemente ter agradado os fãs da franquia, este velho rabugento que vos escreve gostaria de ver um pouco das referências que tornaram o game tão icônico em sua origem. Ou pelo menos um filme que tivesse um arco dramático ruim, mas que se sustentasse nas cenas de ação.

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