O Brasil não enlouqueceu

Descrição da imagem: O presidente Bolsonaro exibe uma caixa de cloroquina para uma ema.

Por muito tempo os males da mente eram tidos como incuráveis ou a medicina não considerava ser assunto seu comportamentos que não tinham, naquela época, origem fisiológica estabelecida. Porém hoje, pessoas com transtornos graves como a esquizofrenia, com um pouco de cuidado em saúde mental, como psicoterapia e intervenção medicamentosa, podem amar, trabalhar e passear por aí sem que as pessoas sequer saibam que elas são acometidas dessa forma de sofrimento psicológico.

Também há na psicologia uma grande discussão sobre o viés cultural dos transtornos mentais.

Isso porque muitos comportamentos que a medicina moderna considera como "disfuncionais" poderiam coexistir na sociedade se esta fosse mais acolhedora. Afinal o que gera o estigma contra a saúde mental são preconceitos até mesmo ingênuos como os mitos de que pessoas com transtornos mentais seriam agressivas, quando na verdade, ao menos no Brasil, a maioria delas tem mais chance de ser vítima de violência do que de causar atos violentos contra outras pessoas.

Mas quando olhamos para o cenário político do nosso país muitos dizem de boca cheia que nossa sociedade está enlouquecendo.

Claro que olhando do ponto de vista do bom senso, não podemos ver como "normais" as atitudes que os governantes atuais têm tomado. Mas chamar isso de loucura é remeter a esse estigma com o qual precisam viver as pessoas rotuladas com a questão dos transtornos mentais.

Além disso, mesmo do ponto de vista errado, o Brasil não está enlouquecendo.

O que vemos no nosso país é o resultado até bem previsível de um processo histórico que remete a formação dessa nação na colonização. O Brasil tem uma hierarquia social muito solidificada e racializada. O genocídio negro e indígena que ainda ocorre, e a desigualdade social que foi praticamente desenhada por engenheiros sociais perversos durante séculos não começou em 2018, mas sim com a própria colonização.

No nosso país, boa parte das pessoas que concentram renda e poder político ainda são aqueles herdeiros das capitanias hereditárias, porções massivas de terra distribuídas pela corte portuguesa ao invadir as terras tupiniquins.

Aqueles que pregam o mérito de suas fortunas, muitas vezes as herdaram de barões e senhores de escravos.

Claramente não daria pra esperar que uma sociedade tão engessada e problemática como a Brasileira aceitasse passivamente o fim dessa hierarquia, sendo capaz de cortar até o próprio braço para ver a ordem social restabelecida, ordem essa onde a elite econômica manda e o resto da população serve de forma quase escravocrata.

A elite econômica e política Brasileira certamente prefere ver a economia e a sociedade do país afundar a abrir mão de seu poder que é sustentado apenas pelo controle dos recursos. Afinal de contas o Brasil não tem uma elite cultural nem mesmo intelectual dentre estes poderosos, mas sim pessoas que meramente herdaram o poder e não sabem como fazer para mantê-lo sem destruir seus concorrentes.

Por isso o Brasil ainda vai seguir sendo governado na base da negociata, com seus ricos apodrecendo endinheirados as custas da fome alheia. Por que a elite Brasileira é só isso, poder e dinheiro. Não há líderes, não há intelectuais - que aliás são pessoas odiadas por estes poderosos -, não há pessoas notórias em nenhuma área. Apenas gente com recursos, acessos e medo de perdê-los. E isso não é loucura, é só ignorância mesmo.

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