O Capital Comportamental

Descrição da imagem: no meio de uma multidão, uma pessoa ergue um celular.

Vivemos num mundo repleto de dinâmicas de poder. Todos querem o domínio não só do nossos corpos, mas também de nossas almas. A promessa de compra se inicia no desejo, e portanto controlar nossas vontades talvez seja o maior dos sonhos dos acumuladores de capital. Afinal de contas, só mesmo a mera menção a essa possibilidade faz empresas receberem bilhões em investimento, mesmo que não tenham lucro nenhum no momento. Claro que dentro desse exemplo cabem redes sociais e os mais diversos tipos de aplicativos que dominam nossas relações mundanas.

Afinal de contas, a tecnologia descobriu que o verdadeiro valor não está na criatividade de suas ferramentas, mas sim na capacidade de controlar o comportamento de seus usuários.

Mesmo empresas que efetivamente oferecem produtos como as gigantes tais quais a Apple ou outras produtoras de dispositivos físicos estão na verdade no mercado de usuários. Poucas são as empresas de tecnologia que efetivamente vendem produtos, o verdadeiro produto somos nós. Por mais Orweliano que isso soe, não podemos ignorar o fato de que o capitalismo é sobre lucro, mas este por si só não é o poder de verdade, o dinheiro é apenas uma representação deste poder que se manifesta na realidade tangível na forma de controle sobre o outro.

Então da próxima vez que você comprar um produto lembre-se que talvez o que está sendo vendido ali não é objeto em suas mãos, mas sim o seu comportamento que está sendo entregue nas mãos de corporações cuja ética e os verdadeiros interesses a gente ainda não tem como ter certeza.

Eu já disse que as maiores tecnologias comportamentais talvez não estejam nas academias, ou mesmo nos laboratórios de pesquisa. Mas sim, talvez, sob sigilo nas mãos de corporações como o Facebook ou o Tiktok. Afinal de contas, o maior experimento comportamental já feito na história da humanidade são as redes sociais. Experimento esse quase que praticamente impossível de ser reproduzido pelos cientistas mal financiados dentro das academias.

Ouso dizer que ferramentas incríveis que desconhecemos por terem sido desenvolvidas sob sigilo industrial, que poderiam estar resolvendo problemas como a depressão ou a ansiedade, estão sendo usadas para vender badulaques em anúncios de sites de forma inescrupulosa.

Será mesmo que manter informações tão preciosas sob o controle de tão poucos faz bem ou mal para humanidade? Será que não poderíamos crescer mais enquanto civilização se essas ferramentas fossem pensadas para fortalecer processos como a democracia ao invés de miná-la?

O que sabemos? Pouco. 

Só é possível dizer que Orwell é um autor morto, e que 1984 já passou. Porém, escritores de ficção científica costumam conjurar maldições que quando desacreditadas podem gerar choro e ranger de dentes.

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