O tempo africano na sociedade do burnout

O atendimento clínico faz a gente se aprimorar pessoalmente para que consigamos acolher demandas diversas. Uma das coisas que tenho elaborado em supervisão em terapia é sobre o tempo. E eu tenho que agradecer também a filosofia e a cultura das nações africanas.

As diversas culturas africanas acabam falando sobre essa questão do tempo que é muito atual. Nossa sociedade impõe um ritmo desumano, ainda mais em cenários de crise quando temos que atuar em vários papéis ao mesmo tempo entregando uma performance cujo resultado é, na verdade, o esgotamento.

Em alguns terreiros de candomblé, por exemplo, temos uma noção diferente de tempo. As coisas não tem bem uma hora pra começar, se começa quando todos estão "prontos". Segundo o sociólogo Reginaldo Prandi no livro Segredos GuardadosO homem africano não é escravo do tempo, mas, em vez disso, ele faz tanto tempo quanto queira”.

Tenho aplicado essa filosofia até mesmo no mundo dos jogos, que deveriam ser um entretenimento pra mim, mas que apesar disso fazia tudo correndo e não relaxava. Quando até nossos hobbies são atravessados pelo burnout, tem algo errado e a gente precisa parar e pensar.

Levar isso pra clínica e pra vida pessoal tem surtido efeitos muito legais e eu recomendo a gente se aproximar de volta de África, porque tem muito conhecimento que deixamos pra trás por conta do colonialismo, que no fim das contas, só faz nos adoecer.  

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