As IAs não vão destruir a humanidade - O complexo de Frankenstein em 2023.

Descrição da imagem: montagem com o rosto do monstro de Frankenstein no estilo Matrix com letras verdes e o título do artigo ao lado.

As IAs não vão destruir a humanidade, nós é que vamos. 

Se você não tiver tempo ou atenção disponível para ler esse texto, eu gravei ele em vídeo logo aqui:


Recentemente foi divulgada uma carta escrita por cientistas e empresários pedindo que se parem as pesquisas com IAs por, pelo menos, 6 meses, com o argumento de que haveria riscos para humanidade no desenvolvimento não regulado de inteligências artificiais. Um exemplo desses riscos seria abalar a democracia.

É importante deixar claro que não é uma ideia ruim regulamentar qualquer forma de nova tecnologia, muito pelo contrário. É importante que seja público o desenvolvimento de tecnologias que podem mudar o mundo. Imaginem apenas se descobertas como a energia elétrica, ou a lâmpada, fossem segredos industriais patenteados nas mãos de algum bilionário? Precisamos lembrar que um homem, o famoso tal Rockfeller, já foi dono de quase 90% do refinamento petróleo no mundo, e que ele só não monopolizou esse mercado porque governos puxaram seu cabresto.

No entanto, soa engraçado que, depois do dano que as redes sociais causaram a democracia alguém como Elon Musk vir falar de “risco”. A primavera árabe nasceu no twitter, Bolsonaro se elegeu no WhatsApp, Trump teria usado dados obtidos de forma obscura dos usuários do Facebook através da Cambridge Analytica. Daí um grupo de pessoas das quais Elon Musk faz parte vem falar de risco à democracia? Sim, em 2023!

É impossível saber o que acontece nos “porões secretos” dessas empresas que residem no bolsos de bilionários excêntricos, mas o que se dispõe ao público em matéria de IA é impressionante, mas não parece ser algo tão perigoso assim. Ferramentas como o Chat GPT são incríveis e fazem um show off muito legal para brincar numa roda de amigos, ou impressionar seu chefe, mas ainda precisam de muita supervisão porque erram grosseiramente.

Se, assim como eu, você for um especialista e tentar usar o chat GPT para ajudar na tomada de decisões sobre um assunto que você domina, aí é que a magia se quebra mesmo. Ele erra grosseiramente, confunde termos e chega até mesmo a inventar conceitos que não existem.

As IAs de texto são recomendadas, ao meu ver, apenas para organizar a informação ou, no máximo, gerar textos genéricos usando dados que você fornece a ela, já que ela ainda não administra muito bem seu próprio banco de dados. Delegar tomada de decisões a uma IA, nesse momento e, claro, considerando que eu estou falando da tecnologia disponível ao público atualmente, seria uma irresponsabilidade.

Sobre as IAs de imagem, elas também têm suas limitações grosseiras que vão desde copiar descaradamente o estilo de artistas famosos, inclusive reproduzindo suas assinaturas, até fazer montagens grotescas de imagens que já existem na internet, incluindo rostos de pessoas reais. Portanto, elas também precisam de supervisão porque são apenas editores de imagem com uma interface mais humana.
Fico fazendo um exercício mental. Será que os artistas plásticos se sentiram inseguros com a invenção da impressora? Ou talvez do desenho digital? Não, eu presumo, porque eram ferramentas, assim como as IAs são. Da mesma forma talvez não tenham ficado amedrontados os escritores quando Gutenberg surgiu por aí com sua prensa, já os escribas, que apenas reproduzem e não criam, essa é outra história.

Asimov, o famoso cientista e escritor de ficção científica, uma vez desenvolveu um texto chamado de Complexo de Frankenstein onde ele falava desse medo constante que a humanidade tem da tecnologia. De fato, a inovação tecnológica tem andado muito mais rápido do que podemos acompanhar e isso naturalmente gera medo. E esse medo talvez venha de uma anomia, ou seja, uma dificuldade de absorver essa nova cultura em nosso modo de vida, pois muitas pessoas não terão repertório comportamental ou verbal para lidar com essas mudanças.

Talvez seja até por conta dessa anomia que tenhamos tantas dissonâncias políticas e sociais. Portanto, precisamos sim investir em mais tecnologias sociais para que ferramentas tecnológicas sejam acessíveis não apenas em seu uso, mas também no imaginário coletivo. Não basta apenas criar uma nova tecnologia e jogar ela na realidade, é preciso também preparar a sociedade para conviver com ela e isso é papel das tecnologias sociais.

O problema é que as redes sociais são a maior tecnologia social do nosso tempo e seu funcionamento é segredo industrial controlado por bilionários, assim como são as IAs. Costumo dizer que, ao contrário do que prega o complexo de Frankenstein, IAs não são ameaças, assim como não são as redes sociais. Elas são ferramentas. A exemplo de ferramenta temos um martelo, que pode servir tanto para construir uma casa quanto para matar uma pessoa.


Por fim, acho que essa discussão é muito válida e importante, mas a forma alarmista como as IAs vêm sendo tratadas denotam mais uma peça publicitária do que uma discussão realmente ética e filosófica, o que é o correto.

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FONTES EM VÍDEO:

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