A crônica do trabalho



Talvez a gente tenha inventado a hierarquia social junto com o próprio conceito de “civilização”. Coloco aqui civilização entre aspas porque estamos falando do tipo de cultura que colonizou o mundo por aí a fora, ou seja, a cultura ocidental europeia. E o trabalho talvez seja a maior manifestação dessa hierarquia social que a gente possa perceber no dia-a-dia.

Com o avanço disso que a gente chama de civilização, o trabalho ficou sendo cada vez mais compartimentado, o sujeito foi se afastando cada vez mais do objeto que produz. Daí o nosso trabalho passou a ficar cada vez mais abstrato e isso às vezes é motivo de angústia. A tensão muitas vezes é o anúncio de um prazer, mas e quando esse prazer não vem? Será que é daí que vem a angústia e que domina nossa ansiedade como uma pandemia?

Mas somos seres abstratos, simbólicos. Poderíamos elaborar o fruto do nosso trabalho como sendo o salário no fim do mês. Mas e quando esse tal salário não é o suficiente para o mínimo de sobrevivência e dignidade?

Ainda assim, a gente vive numa cultura que cultua o trabalho como se cultuasse o sofrimento, num dogma que diz praticamente que, se você não venceu na vida, é porque não se sacrificou o suficiente. Sim, como em muitas religiões, somos ensinados a sermos ovelhas, carne de abate, e temos de fazer isso de bom grado para a felicidade do estômago e dos bolsos dos nossos donos.

A escravização do povo negro acabou há 300 anos, a mulher tem mais liberdade e respeito, as minorias ganham voz. Ou será que ganhamos todos o direito de vender nossa mão de obra a preços irrisórios? A exploração dos corpos minorizados, marginalizados acabou ou apenas mudou de nome?

É, essa charge me fez pensar.



Comentários

Veja também:

Artigos populares