Tem gente demais no mundo?


Tem uma teoria de conspiração que fala que os Illumianti, que seriam um grupo ultra secreto de pessoas mega poderosas que controlaria o mundo, que eles teriam a intenção de reduzir a população global através de alguma espécie de grande extermínio. Eu lembro muito bem que, por volta de 2010, quando começaram implementar a FEMA, que é uma agência que lidaria com grandes desastres no solo dos EUA, começou a circular pela internet vídeos que revelariam supostos caixões onde os corpos seriam enterrados, bem como trens e edificações que muito lembravam (e os vídeos faziam esse paralelo) campos de concentração da segunda guerra mundial.

De fato, há quem acredite de forma antiquada que existe gente demais no mundo e que boa parte da crise que vivemos se dá pelo número excessivo de seres humanos. O problema é que essa é uma ideia que eu sinto como sendo de uma natureza extremamente fascista. Isso porque, geralmente, o corpo exterminado tem cor, sexo e cultura específica.

Não há gente demais no mundo, pra começar, pelo menos naquilo que tange a recursos para manter, e aqui eu digo manter com qualidade, a vida dessas pessoas. Esses dias eu li que custaria menos do que a fortuna que possui Elon Musk para acabar com a fome do mundo. Se a gente pensa então no apocalipse climático em que estamos vivendo, um bairro pobre inteiro deve poluir muito menos do que apenas um bilionário e seus jatinhos, navios e regalias.

Então não, não tem gente demais no mundo. Ponto final. Fecham-se as cortinas, vamos pro próximo texto? Não.

O que eu acho que sentimos enquanto excesso é a forma como corpos humanos são processados. O capitalismo tardio, na minha impressão pessoal, parece causar uma sensação de escacês para gerar demanda. Há soluções eficazes prontas para, por exemplo, resolver o problema da habitação. Mas daí a falsa escacês acabaria e o mercado imobiliario poderia sofrer prejuizos. Eu particularmente acho que, e aqui peço perdão pelo meu francês, foda-se o mercado imobiliario. Se meia dúzia de ricos quebrarem para que todo mundo possa ter casa, que quebrem. Esses dias eu vi um cara falando que água gratuita é ruim pro capitalismo, pois não gera lucro e eu sinto que é bem assim que pensam os grandes capitalistas que a gente vê por aí. Pessoas valem menos que dinheiro na nossa sociedade. Isso é o que sinto.

Então, quando os corpos são processados não como pessoas, mas como mão de obra barata que podem ser empilhados em ônibus, mal alimentados, mal remunerados. Que vivem empilhados em casas sem recursos mínimos para se viver com saúde física e mental, sem acesso a natureza, sim, o corpo do outro que concorre comigo pode ser um inimigo. Esse contato forçado que acontece durante o processamentod dos nossos corpos no capitalismo pode fazer com que a gente se odeie, e odeie o outro que está do nosso lado.

E que triste temos que viver isso. Não tem gente demais no mundo. Temos espaço, temos recursos, só não temos disposição dos poderosos de abrir mão de seu poder para que haja bem estar coletivo.

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