Colonialismo Cultural

A cultura molda nosso comportamento. E quem controla a cultura, controla quais são as palavras que podemos usar para descrever a nós mesmos!

Precisamos de palavras para expressar nossos sentimentos ou, como dizia a psicanalista Neuza Santos, construir um texto sobre nós mesmos. Pra psicanálise, a arte de construir esse texto sobre quem somos faz parte do processo de cura.

Quando tomamos por exemplo a questão étnico racial entendemos que, por muito tempo, as palavras que a cultura que nos colonizou oferecia pra que gente escrevesse esse texto eram, em grande parte, negativas. Não é em vão que autoras como Neusa e Fanon falam tanto dessa necessidade de reconstruir, ou resgatar a identidade de pessoas racializadas na nossa cultura.

Mas como fazemos isso sem inventar novas palavras? Ou sem, minimamente, mudar o significado das palavras que já existem? Na década de 70, iniciou-se no Brasil um movimento nesse sentido, de resgate dessa identidade. Eu era criança, mas ainda me lembro de revistas como a Raça, que estampava pessoas pretas na capa e lembrava que ser negro também pode significar ser uma pessoa bonita.

Mas no passado, também já tivemos movimentos nesse sentido que eram negativos, como os nacionalistas que queriam construir uma identidade brasileira que acreditava erroneamente que somente o sangue europeu poderia fazer do Brasil uma grande nação. Nem preciso dizer quais eram as influências aqui, não é?

É essa importância de construir nossa própria cultura, nossa própria identidade. E ela precisa ser plural e inclusiva, senão estamos fadados a repetir os mesmos erros do passado, senão piorá-los!

No entanto, atualmente no Brasil ainda sofremos um dos piores tipos de colonialismo que é o cultural. Ainda nos remetemos a uma capital "além-mar" que é quem decide por nós, quem dita o certo e o errado, o feio e o bonito. Quem escolhe as palavras que podemos usar para dizer o que é ser brasileiro.

Por muito tempo, essa capital foi Portugal, ou ao menos uma versão idealizada dela. Talvez hoje quem coloniza a nossa mente sejam os estadunidenses, pois, com certo atraso, ainda seguimos as modas de lá, como está sendo o recente moda do levante de extrema-direita, cumprido aqui com rigor seguindo os mesmos passos que vimos na nossa "metrópole".

Mas, por sorte, temos um governo no poder que, mesmo de forma insatisfatória, ainda incentiva a cultura local. Uma cultura que talvez seja aquela que busca enaltecer a nossa identidade.  No entanto, talvez essa cultura mais enraizada no ser brasileiro não seja tão popular assim. Mas já é um belo começo.

Portanto, cientes de que somos conquistados não só com chumbo, mas também com palavras, rimas, música, luz e cores, precisamos entender quem somos no mundo, o que é ser brasileiro, e não apenas nos deixar levar pelos "enlatados" americanos, cuja analogia é perfeita, pois assim como o fast food faz mal ao nosso corpo, a cultura colonizadora nos adoece a alma.

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