DDMF - Burrice, engano e mau caratismo no espectro ideológico e político.
Frequentemente eu vejo as pessoas chamando quem discorda delas no aspecto ideológico/político de “burro”. Isso me incomoda um pouco pois, apesar da catarse de chamar alguém de burro, talvez a gente esteja sendo impreciso em relação a uma ofensa, talvez, merecida.
Eu
acho que a grande parte das más escolhas ideológicas não são realmente
escolhas, são heranças culturais ou enganos de percepção da realidade.
Tenho a impressão que, no Brasil, pessoas são mais de direita quanto mais ricas suas raízes são. E quando falo de riqueza aqui não me atenho apenas ao aspecto financeiro da coisa, mas sim de uma tradição familiar. Pessoas cujas raizes remontam a uma herança financeira e cultural colonial tendem (geralmente) a serem mais radicais de forma ideológica.
No entanto, aquelas famílias que, idependendente da origem, mas que preferencialmente sejam de origem pobre ou que tenham alcançado a classe média há poucas gerações, mas que necessáriamente tenham altos níveis de educação, tendem a ser mais incisivos ou radicais no que tange ao aspecto de esquerda.
Importante destacar que temos uma alteração do espectro político ultimamente, onde se diz que os políticos de direita foram tão pra direita que até um esquerdista moderado pode parecer um comunista.
No entanto, cara pessoa que lê, estamos falando aqui de uma ofensa dirigirigida a alguém que discorda do nosso espectro político/ideológico e eu penso que “burro” não é uma ofensa precisa e uma boa ofensa, uma que seja eficaz, precisa atingir um nível de precisção satisfatório.
Eu não sou neutro. Me considero um progressista, alguém de esquerda até por aquela herança familiar que acabei de descrever. Portanto, situemos nossa ofensa num cenário hipotético: uma discussão de internet onde a pessoa de esquerda quer desferir uma descrição que faça demérito de seu oponente, ou seja, uma ofensa.
Vamos nos ater então ao significado de “burro”.
Com uma leve pesquisa no Google você percebe que burro é uma ofensa dirigida a uma pessoa que, aparentemente, tem pouca capacidade cognitiva ou é, até mesmo, analfabeta. Ora, se somos progressitas queremos preterir pessoas com deficiência ou baixo desenvolvimento cognitivo ou falta de acesso a educação? Não.
Tendo a acreditar que, apesar de ser uma herança cultural, uma má escolha dentro do espectro político seja uma herança cultural como já dissemos. É algo adquirido e não inato. Então, mesmo que se oferte essa cultura ideológica o sujeito tem alguma atividade sobre ela.
A ideologia não é de todo passiva. E quando o é, circula na órbita do engano, como quando, por exemplo, uma pessoa periférica acredita que é possível se tornar um bilionário com a exploração da sua própria mão de obra. Ou quando este mesmo sujeito é levado a acreditar nisso pelo patrão, a quem ele adimira, teme ou meramente inveja.
Mas isso se trata de um engano, pois essa pessoa (presume-se) não tem ferramentas adequadas para processar a realidade a sua volta. Afinal, ela vê pela tevê/redes sociais e até nas igrejas pessoas pregando que os bilionários e os ricos num geral chegaram onde chegaram pela via do esfoço, do trabalho. E isso é um engano.
Engano é engano, não é burrice.
E no caso da pessoa que ativamente escolhe um espectro político errônio (ou meramente oposto ao que acreditamos), não se trata de burrice, mas sim de mau caratice. Principalmente quando a pessoa tem acesso a informação, a educação e tem a capacidade de processa-la de forma satisfatória.
É sabido que, talvez, se fizéssemos uma pesquisa o maior índice de consciência de classe estaria entre os ricos. Eles, boa parte das vezes, sabem como funciona a sociedade e, mesmo que de forma inconsciente, temem perder o privilégio. Então, talvez, essa interpretação da realidade seja um tanto perversa. Afinal de contas, qual o maior medo de um privilegiado que não perder o próprio privilégio?
O significado de caráter pode ser, dentre os vários outros, uma marca psicológica de um sujeito, uma espécie de padrão de agir. Uma pessoa dotada de um mau caráter é uma pessoa que tem comportamentos perversos, egoístas, vis. Uma pessoa do mal.
Uma pessoa ruim.
Isso não rima melhor com uma pessoa que não tem empatia pelos demais? Quem acha que o que acontece com as minorias no nosso país é um processo natural e que não deve ser alterado? Quem acha que pessoas que são diferentes da normatividade não tem o direito de existir?
Entre burro e mau caráter, por coesão ideológica, eu fico com o mau caráter ou, quem sabe, até com o perverso
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