Sobre a Sociedade Ômega meu universo afro futurista

 

Montagem: Pessoa negra na frente de um portal interdimensional. Créditos: Afrika is Awoke.

O afro futurismo não nasceu hoje. Precisamos ter consciência de que assim como os movimentos de luta antirracista têm sido tema recorrente das hashtags nas redes sociais, mas não criaram os diversos movimentos negros, o afro futurismo, uma vertente literária da ficção científica que visa o protagonismo negro existe pelo menos desde a década de 70.

Portanto é preciso a gente ter uma contextualização antes de pensar sobre essa vertente importante da ficção científica que tem um peso cultural e social enorme nos dias em que vivemos.

A CULTURA COMO UMA FORMA DE COMBATE AO RACISMO

O racismo estrutural é perverso e por séculos vem ignorando ou até mesmo combatendo ativamente a cultura negra, principalmente aquela que exalta suas raízes africanas. A exemplo disso, hoje temos grupos de samba dentro de quartéis, mas no início do século XX, o que é ontem na história da humanidade, essas mesmas instituições militares viam um pandeiro com a mesma ameaça de uma arma de fogo e artes como o samba e a capoeira eram vistas como manifestações subversivas.

A cultura negra, principalmente no Brasil foi sim ativamente combatida com força de lei e repressão policial. E não é atoa que se criou uma sociedade estruturada no racismo, e como toda cultura reflete sua sociedade, influências negras africanas foram deixadas de lado.

Portanto eu acho interessante a gente se apropriar da expressão "subversão" para realmente destruir essa estrutura que segrega o corpo negro no país em que ele próprio é maioria! Ocupar espaços culturais com a nossa cor é um ato antirracista, sobretudo, um ato de luta que ofende aqueles que defendem essa hierarquia social perversa que se institui na base do ódio.

Montagem: Crianças africanas na frente de um portal interdimensional feito com referências egípcias. Créditos: Afrika is Awoke.

AFRO FUTURISMO TAMBÉM NÃO É SÓ MILITÂNCIA

No entanto, o afro futurismo não pode existir apenas a partir do racismo, pois esse reducionismo cala a cultura negra reduzindo toda a riqueza de um povo ao seu sofrimento. Autores brasileiros como Fabio Kabral falam disso nas redes sociais manifestando o entendimento de que a cultura feita por pessoas negras têm qualidades por si só e não apenas porque se tratam de uma suposta militância.

Não queremos aqui reduzir a importância da militância e de todo sangue que foi derramado em prol dessa causa, mas sim levantar a armadilha que esse reducionismo causa que é enquadrar o discurso da cultura afro brasileira no espaço restrito e confortável para os racistas que é a de um discurso que é permitido existir apenas para aplacar o sentimento de culpa de algumas camadas da sociedade.

A arte negra é militância sim, mas sobretudo ela precisa ser reconhecida primeiramente como arte por si só!

Ilustração: torre afro futurista no meio da savana. Créditos Weebly.

PORTANTO, O QUE É A SOCIEDADE ÔMEGA?

Tendo em vista toda a contextualização social feita, afinal de contas sobre o que é esse universo que estamos desenvolvendo?

Como já venho dizendo nas redes sociais há algum tempo, na minha adolescência quando comecei a escrever o primeiro gênero que experimentei foi a ficção científica. Ao consumir obras de autores como Isaac Asmov, Phillip K. Dick, Arthur C. Clark, Mary Shelley, e muitos, muitos outros fiquei fascinado com o exercício de imaginar o futuro da humanidade construído através da tecnologia.

Eu escrevi centenas e centenas de páginas de contos e até romances que nunca sequer viram a luz do dia, pois esses escritos foram gerados na aurora da minha intenção literária e certamente não eram bons. Além disso, com os anos eu acabei mergulhando na carreira de psicólogo tendo por foco temas mais cotidianos, como as relações de poder que abordo em Illuminatus - O Touro de Bronze ou mesmo a cultura política do brasileiro como em Café & Cigarros. Porém, ao refletir nos últimos anos e ter o meu próprio processo de "me tornar negro" como narra Neusa Santos, passei a entender que falar sobre futuros distantes e até mesmo utópicos não é apenas falar de fantasias intangíveis, mas pode ser também o planejamento de futuros possíveis.

Foi então que minha tragetória fez sentido quando tive contato com a obra de autores como Milton Davis, Octavia Butler, com a estética de artistas como Sun Ra e Janelle Monáe e soube de brasileiros como o próprio Fabio Kabral e a Lu Ain-Zala.

Ilustração: Mulher negra na cabine de uma espaçonave. Créditos: Afrika is Awoke.

No momento atual estamos vendo o quão importante é a intervenção da tecnologia nas relações sociais, e meu objetivo com este universo é filosofar sobre a nossa dependência da mediação das relações sociais feitas pelos algoritmos, e o quanto isso pode ser bom - se feito da forma certa -, e o quanto isso pode ser terrível como estamos experimentando amargamente no momento.

A obra mescla fantasia e processos cognitivos reais. Queremos assim como Asimov testar nos textos possibilidades tecnológicas baseados em ciência real, mas sem esquecer do Phillip K. Dick que nos realçava o quão importante é pensar como as pessoas reagiriam a elas. E tendo em vista enaltecer culturas esquecidas e combatidas ter uma visão de autoridade da cultura negra, de protagonismo e orgulho.

Queremos com Sociedade Ômega levar a sério o conceito de universo ficcional ao pensar em culturas inteiras com seus comportamentos, história, tecnologias e formas de se relacionar. Tudo isso trazendo reflexão, propondo soluções pro mundo real sem deixar de fazer entretenimento de qualidade.

Despertei sua curiosidade? Visite mais o site para saber das novidades e me acompanhe nas redes sociais. Ainda falaremos muito sobre esse universo por aqui.

Comentários

Veja também:

Artigos populares