Fanon conversa com Skinner - Psicologia preta e análise do comportamento

Pintura de mulher negra com rosto pintado de branco.

A psicologia preta é uma nova ótica que psicólogos ao redor do mundo tem tido da psicologia em face as consequências que o racismo tem sobre a psiqué de suas vítimas, sobretudo aquelas que são negras em países com histórico de colonização.

Antes de seguir o texto confira também o vídeo que gravamos sobre o assunto logo abaixo:


No Brasil esse debate tem sido dominado pela psicanálise que, muitas vezes baseada no psiquiatra e psicanalista Fanon, ganhou sua regionalização através de vozes como a da também psiquiatra e psicanalista Neusa Santos.

Porém há um grande debate sobre a relação entre a psicologia e a psicanálise, que na prática são saberes diferentes. Há ainda uma visão de que a psicanálise nem deveria ser encarada como prática do psicólogo, afinal de contas, a psicanálise é um saber que não se curva aos métodos científicos.

Isso é um fato que diminui a base teórica dos profissionais de psicologia que desejam estudar sobre a psicologia preta, pois se o assunto está dominado por uma prática não científica, versar sobre a visão da psicologia no enfrentamento do racismo necessitará a destravação de caminhos ainda não abertos.

A visão da psicologia que mais se apropria do discurso científico strictu sensus é a análise do comportamento, porém há pouquíssima bibliografia sobre o assunto psicologia preta em relação a esta abordagem psicológica no momento.

Porém, no artigo "Decolonizando a identidade sob uma perspectiva analítico comportamental" (confira a bibliografia no fim do texto), o autor Wueslle Thibes nos traz um comparativo entre textos de Skinner, fundador da análise do comportamento, e Fanon, psiquiatra e psicanalista autor do livro Pele Negra Máscaras Brancas, que embase boa parte da visão psicanalítica da psicologia preta.

Thibes ressalta um ponto que sempre me chamou a atenção na Análise do Comportamento (AC), o fato de nessa visão da psicologia se negar a existência de uma mente que, por conta própria, é a única responsável pelo comportamento humano, reforçando a ideia de que, apesar de termos um "self", ou seja, uma visão própria de nossos comportamentos, eles são na verdade produto do ambiente ao qual somos expostos enquanto existimos.

O autor ainda compara esta ideia a base teórica de Fanon, que faz uma análise de que a identidade negra colonizada se constrói através das imposições socioculturais brancas colonizadoras. Que mesmo a consciência de existir enquanto pessoa negra passa pela interpretação do que é ser negro imposto pela cultura banca europeia.

Portanto, podemos entender que o sujeito negro é condicionado pelo racismo estrutural.

Tal afirmação é algo gravíssimo, tendo em vista que a grande discussão sobre a psicologia preta se faz sobre os interditos cognitivos criados pela sociedade racista que limita a potencialidade do sujeito negro de até mesmo aceitar a estética do próprio corpo. Além disso, já falamos de outras teses comportamentais como a do racismo automático, onde a partir do conceito de "priming" podemos explicar os processos cognitivos por trás da violência policial que assassina corpos negros.

Importante ressaltar porém que mesmo diante de tudo que foi exposto aqui, ainda há muito o que desbravar sobre psicologia preta e análise do comportamento. E essa é uma discussão que não será sanada por dois artigos, ou mesmo cem deles!

BIBLIOGRAFIA:


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