A importância da psicologia preta nas políticas públicas

Descrição da imagem: foto em preto e brancopessoas negras com roupas tipicamente africanas andando na rua.
Quem acompanha meu trabalho por aqui e nas redes sociais sabe que falo bastante sobre a importância de uma visão mais socialmente contextualizada da psicologia, principalmente quando falamos da formação de novos profissionais.

Há diversas publicações e estudos que provam que o racismo no Brasil é um fato doloroso na estrutura social do nosso país. Sempre gosto de destacar a obra do Prof. Silvio de Almeida que em "Racismo Estrutural" nos explica não só como o racismo causa sofrimento e morte no nosso país bem como faz parte da nossa própria fundação e estrutura atuais. Autores como Fanon, Neusa Santos e Virgínia Bicudo mostram para nós a dimensão do dano psicológico que essa estrutura social causa.

No entanto, diariamente colho relatos de reprodução de lógicas racistas na clínica psicológica, tanto de pacientes quanto nas minhas interações nas redes sociais. A profissional de psicologia precisa muito além de um olhar neutro e ético ser formada para entender contextos sociais e políticos que atravessam seu fazer. Isto inclusive é previsto no princípio III do código de ética da psicologia. Portanto, é sim obrigação da profissional, independente de sua formação considerar o racismo no trato com as pessoas a quem serve.

É interessante destacar também que se tratando de políticas públicas tudo parece se agravar ainda mais. Grande parte da população provavelmente acaba tendo acesso a serviços de psicologia somente através de políticas públicas, sejam elas de saúde, sociais ou de educação. É uma relação de dependência onde o sujeito acaba não tendo escolha de ambiente ou de profissional para atendê-lo. E todos sabemos que o momento político e econômico em que vivemos não contribui para a qualidade dos serviços públicos ofertados.

Portanto, é possível imaginar que nas políticas públicas a situação da reprodução de estruturas racistas no atendimento psicológico se torna ainda mais grave. O estado que deveria atuar na garantia de direitos do cidadão muitas vezes é o primeiro a violar este direito através de profissionais mal preparados ou com interesses duvidosos.

É claro que como eu já disse neste artigo (clique aqui pra ler) a estrutura do serviço público parece ser construída para condicionar profissionais a oferecer um serviço de qualidade péssima, seja pelos baixos salários, poucas ou nenhuma condições de trabalho, vínculos precarizados e até mesmo perseguições políticas. Porém o profissional técnico precisa ter ciência do seu papel social e das forças que atravessam o seu fazer.

Em conclusão, penso que talvez enfatizar a questão do racismo na formação dos profissionais de psicologia seja uma saída que permeie todos os campos de atuação, bem como uma fiscalização mais atuante do sistema conselhos, agindo com veemência nos casos de racismo executado ou reproduzido por profissionais da psicologia. É claro que o código de ética ainda nos lembra que é obrigação do profissional de psicologia se manter em constante aprimoramento, o que exclui um falso argumento de uma inércia social na reprodução do racismo.

É cansativo pensar que ainda temos estes tipos de problemas na classe profissional, pois atuar de forma ética e socialmente responsável deveria ser o básico não só para a classe da psicologia, mas para qualquer profissional que atende vidas.

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